4 de abril de 2007

Saudosismos, Nostalgias e Música!


Cheguei ao meu quarto à pouco! A minha aparelhagem estava ligada. Mais uma vez, para variar, ela ligara-se sozinha, o que me faz lembrar que tenho que reparar isso. Não é agradável ter uma aparelhagem que se liga sozinha, ainda por cima durante a noite…

Mas o facto é que ela estava ligada… Ligada numa rádio que não ouvia há anos. O programa é o Oceano Pacífico. Quando cheguei ao quarto tocava Gary Moore – I still got the blues, não tive coragem de desligar e deixei-me continuar de mente pregada nas colunas… a música permaneceu suave e melosa como era de esperar. Seguiu-se Hazard de Richard Marx, e o meu coração começou a latejar, e quando senti o peito pequeno para o meu coração, foi quando o Is this love dos Whitesnake entrou, e ai não houve força que controlasse a queda desmesurada de uma lágrima. Cindy Lauper juntou-se a festa com o seu famosíssimo Time after time e aí a nostalgia chegou. Relembrar dias de loucura, momentos de grande felicidade ao som de músicas como estas. Para ter a certeza que relembraria tudo, Dire Straits, com Brothers in arms e Roxanne, com Spennding my time, continuaram o “remember”. Tudo se proporciona para mais uma noite longa. Relembrar velhas amizades, verões de grande felicidade exprimidos até a última gota, noites longas ao relento a contar estrelas cadentes, a manteiga a derreter na broa quente, sorrisos de cumplicidade trocados ao desbarato, gargalhadas que ecoavam na escuridão que as noites nos proporcionavam, excessos, abraços, olhares, palavras, beijos, amizades realizadas a um expoente máximo.

Parecia que a rádio havia escolhido a programação a pensar em mim, e sem hesitar, metem a tocar Nena Cherry – Seven seconds away e Phil Collins – Hold on my heart, e como por magia lá estava eu a sonhar com um passado já algo distante. Tempos difíceis mas gratificantes, tempos em que eu aprendia a ser homem, tempos em que cultivei tudo aqui em que acredito, os meus valores, a minha palavra. Anos de ouro, uma adolescência construída por entre loucas aventuras com consciência sempre presente.

Nessa altura a minha cabeça estava despojada de todos os sentimentos menos o de saudade que preenchia todo o cantinho das minhas emoções. Foi quando de dirigi a varanda e observei a lua que se erguia cheia. Simply Red proporcionava o som de fundo com Holding back the years, e nessa altura eu é que não fui capaz de segurar mais uma lágrima, mas desta vez, era uma lágrima diferente, parecia cair com um sorriso colado por perceber que por onde quer que eu passei algum tempo, deixei amigos, amigos que não esquecemos, amigos que nos marcam de uma maneira que se torna impossível alguma vez esquece-los. Pessoas que nos dizem muito, apesar de não as vermos tantas vezes como as que desejamos. Pessoas que carregaremos para o resto da vida, não como um fardo, mas como um indicativo que o amor existe.

A noite adensa-se e penso agora que não foi erro nenhum ainda não ter dedicado umas horas a reparar a aparelhagem. Acho que hoje ela deu-me um sinal que há mais razões para sorrir que para chorar.

Claro que a rádio, que fez a programação desta noite a pensar em mim, não poderia deixar passar Moments in love dos Art of Noise. Não seria uma noite de profunda nostalgia se não tocasse uma música que me fizesse recuar dois anos. Um lounge que me fez recordar o Inverno quente e muito soalheiro de 2005. Tardes passadas na esplanada de um bar plantado à beira praia, onde vivi momentos de profundo amor, ao sabor do café. Pores-do-sol assistidos numa duna qualquer, ao som das ondas que reclamavam mais uns metros a costa. Salivas trocadas num beijo mais profundo, sempre na companhia de um sorriso, de um olhar silencioso que dizia mais que qualquer palavra, frase ou discurso. Retinas centradas, focadas nas homónimas que se apresentavam na imagem.

Foi a vez de Moby com Love should, passar, como que a quebrar com tudo que aquilo que eu estava a sonhar. Mais uma vez, aproveitando a leveza que a música cedia ao quarto, fiquei a pensar no presente. Fez-me perceber que este presente em nada tem haver com toda a vida que eu tive até agora. A dor da rejeição e da perda de um grande “amigo” mostram-me que, de facto, nada disto combina com o que eu vivi até há um ano atrás.

Quando parecia estar tudo relembrado, foi quando apareceu a Whitney Houston, maravilhosamente cantando I will always love you, e a imagem de certas pessoas colou-se-me aos olhos fazendo reviver tempos, que na altura pareciam eternos, namoros de uma adolescência, namoros loucos que se passavam à beira rio, enquanto se passeava pela Expo, adrenalina à flor da pele, pensamentos de felicidade eterna, enfim… a idade da inocência.

Acho que a noite já vai longa demais para quem amanha tem que acordar bastante cedo, por isso acho que fechar com Seal – Loves divine, parece-me muito bem, adequado a tudo o que vivi, e espero viver… se calhar se não fosse tanto trambolhão que eu tenho mandado ultimamente, poderia incluir o tempo verbal no presente. Não inclui-lo poderá soar injusto para muita gente, mas é como eu me sinto.

Amanhã é um novo dia, um dia longo e espero que, depois de tanta emoção, amanhã não tenha o coração dorido. Ainda há tempo para ouvir U2 – One love… how appropriated, enfim alguma mágoa é arrastada com esta…

Espero que a minha aparelhagem não me pregue outra partida como a de hoje…

Vou dormir…

Sem comentários: