31 de outubro de 2007

Uma trajectória.

Pelos paralelos sujos e gastos, eu caminhava. Um trajecto, uma rotina tão normal como o respirar. Parece que o tempo não passa por ali. O louco está sempre na mesma esquina, falando alto para as pessoas que passam como que a partilhar os seus pensamentos insanos, mas que é a insanidade? Que parâmetros definem o que é ou não é insano? A mim parece-me tão ténue a barreira que delimita a loucura da sensatez.

O breu dos túneis mostra-me uma face reflectida no vidro, uma face distorcida pelas outras luzes que estão na carruagem, uma face triste, a minha face.

Já na superfície o sol batia-me na cara enquanto um pensamento batia na minha cabeça.

Não sei se foi pelo embalo do sol ou pelo sabor amargo que residia na minha boca por todas as palavras que proferi que foram contra aquilo que a minha mente queria dizer, mas percebi que não há no mundo uma lei que possa condenar alguém que a um outro alguém deixou de amar. Estava patente a minha desgraça, o meu reconhecimento de um erro… não adiantou em nada fugir, pois o bicho já me havia apanhado. Agora resta-me pouco a fazer senão retroceder tanto o quanto for possível. Há que minimizar os danos e olhar em frente…

Hoje o dia está bonito, quem sabe perfeito para isso…

29 de outubro de 2007

Altura dos “Porquês”! (Parte III)

Porque é que, por vezes, um “Amo-te” dói mais que um “Odeio-te”?
Porque é que não podemos escolher de quem queremos gostar?
Porque é que, mesmo sabendo que o sonho se vai tornar num pesadelo, queremos continuar a sonhar?
Porque é que tudo o que sobe desce, mas nem tudo o que desce sobe?
Porque é que há alturas em que cremos naquilo que negamos uma vida toda?
Porque é que há sempre um “mas” e um "senão"?
Porque é que estamos em Outubro e parece que a primavera acabou de chegar?

26 de outubro de 2007

X-files ao estilo português.

Não é segredo nenhum que eu sou um adepto de futebol, o que torna óbvio que vejo muitos jogos na televisão. Também não é segredo que os comentadores têm saídas fantásticas durante os relatos, mas eu decidi focar-me numa observação que dramaticamente se tornou num cliché, “A relva está molhada, e a bola ao bater nela acaba por ganhar velocidade”. Isto é repetido sempre que chove e por todos os comentadores.

Eu acho que era de chamar a atenção aos júris dos Prémios Nobel pois estamos perante um fenómeno que contraria uma das principais leis fundamentais da física, e documentado pelos nossos melhores narradores de futebol. O Sir Isaac Newton deve dar três voltas no seu túmulo sempre que isto é dito!

Não seria mais correcto dizer que “a bola não perde tanta velocidade”, em vez de “a bola ganha velocidade”?

Seria engraçado, bastaria construirmos uma extensão grande de relva, esperar que chovesse para chutarmos a bola e observarmo-la a ganhar velocidade até atingir a velocidade da luz… será que não é óbvio que se a bola pára é porque não está a ganhar velocidade?

O segundo caso tem contornos mais graves…

Um belo dia, numa aula de uma cadeira de física, na minha faculdade, um professor de elevado estatuto curricular tem esta saída; “…isto acontece quando aquecemos a temperatura…”.

Não sei porquê, mas imaginei-me logo a pegar num quilo de temperatura, a coloca-la numa panela, a ligar o lume na esperança de ver tal fenómeno de aquecer a temperatura. O fantástico foi ele ter repetido três vezes a mesma frase, até que eu desisti de tentar entender o que ele estava a tentar mostrar… Será que ele queria dizer; “…isto acontece quando aumentamos a temperatura…”?

Enfim… tantos talentos perdidos por este país… verdadeiros Einstein’s e Newton’s portugueses…

15 de outubro de 2007

Fotografia

Foi quando cheguei do banho que me apercebi que o meu quarto precisava de uma boa limpeza. Achei que não era tarde, nem era cedo, e armei-me, até aos dentes, com objectos de limpeza.
Enquanto limpava as mais profundas entranhas do meu cantinho, que esbarrei com uma caixa. O pó fazia notar que havia passado muito tempo desde que tinha sido aberta pela última vez. Depois de remover a poeira, sentei-me na minha secretária e coloquei aquele pequeno objecto a minha frente. Era, obviamente, uma caixa mais pesada do que parecia ser, devido ao peso das memórias nela contida.
Fiquei a contempla-la por uns instantes, antes mesmo de abrir, e quando finalmente decidi fazê-lo, vi um monte de doces recordações que se foram acumulando em fotografias.
Não foi preciso muito para achar uma fotografia em particular…

Eu, tu… nós dois… naquele terraço à beira-rio, o sol ia caindo e o teu olha parecia acompanhar a cor do rio. Parecia que não queríamos ir embora. A tarde caía e ia se desfazendo em milhares de cores até ao escurecer. O sol já tinha caído sobre a outra margem… era um final de tarde quente, como só o verão nos proporciona. Era tudo perfeito.
Era só eu, tu… nós dois… sozinhos naquele bar, a meia-luz, iluminados pela lua que se erguia bem alto, a conversa, que era sempre agradável, parecia ter sempre assunto. Era tudo tão perfeito…

Enquanto contemplava a tua fotografia daquela tarde, havia uma suave melodia a fluir do meu rádio, fazendo-me ver que há sempre uma canção para aquela velha história de um desejo que, quase, todas as canções tem para contar, de um desejo daquele beijo… aquele beijo que tantas vezes tocamos…

Era tudo perfeito… demasiado perfeito…

9 de outubro de 2007

Uma lágrima!

Estava a ver que a noite não chegava. Hoje, esperei ansiosamente, por esta hora. Estou exausto… estou extenuado, mas finalmente chegou a hora de eu deitar a minha cabeça debaixo da almofada, deixar cair a minha máscara de corajoso e chorar… chorar…

Chegou a hora de ser invejoso e egoísta e pensar só em mim enquanto choro…

O silêncio do meu quarto é frio, por isso vou ter que me esconder debaixo dos meus lençóis para que o meu pranto não ecoe pela casa. Não quero que mais ninguém saiba o que faço… não quero que ninguém me veja derramando o sal.

Estou cansado, estou extenuado… e choro… muito…

8 de outubro de 2007

Uma curta do Tim!


Tim Burton, e o seu grande talento!

Muito boa curta!

Faz me lembrar alguem :S

Saudades do Futuro.

Há algo no horizonte!

São pássaros animados pelo anúncio de mais uma amena tarde outonal!

Sinto o meu espírito solidário com a alegria deles!

Outono…

Uma estação onde a mudança está implícita. As árvores dão ordem as suas folhagens para trocar o verde resplandecente, pelo castanho velho, mas eu ainda continuo na mesma, com a minha solidão compulsiva. Mais uma vez, encontro-me fechado no meu cantinho, ouvindo melodias sem voz que embalam os meus sonhos, que fazem a minha alma dançar uma valsa em Si, que emancipam a minha dor num tom em Dó menor.

A dança continua, mas eu permaneço, aqui sentado, nesta cadeira onde deixo os meus olhos se fecharem para que também eles possam sonhar. O meu tacto sente o calor que trespassa o vidro da minha janela; a minha audição capta as vibrações que flutuam pelo meu quarto; o meu olfacto sente o sabor flagrante de mudança que se encontra no ar; já o paladar, por sua vez, sente o odor adocicado que o sol propaga lá no alto.

Continuo parado, mas isso é só uma questão de perspectiva, pois dentro de mim corre um contemplamento superior, que me confronta numa antítese, fazendo todo o meu corpo estremecer. Será um arrepio? Acho que os outros chamam-lhe de ânsia de viver, mas eu chamo-lhe apenas de Saudades do Amanhã!

7 de outubro de 2007

Talvez, um dia, tudo faça sentido!

Embalado por baladas que fazem a melancolia mais profunda despertar, deambulo pelo meu quarto. Reparo que as paredes já não são mais brancas e pergunto-me quando terão elas mudado de cor. Terá sido no verão ou foi no defeso da minha dor? Não sei, mas contudo, nelas permanecem as mesmas memórias, os mesmos reflexos de acontecimentos que não mais voltaram a acontecer.

Estou triste, há mais que muitas razões para me sentir assim, mas algumas delas não merecem sequer uma palavra proferida.

Tenho um nó no estômago, não sei o que se passa com tempo, parece que parou! Estou em casa sem vontade de sair, de falar, de estar com quem quer que seja. Encontro-me perdido, completamente à deriva. Tudo que consigo manifestar é que nunca mais quero confiar em ninguém, nunca mais me quero entregar a ninguém, nunca mais quero saber de ninguém, nunca mais quero conhecer ninguém. As pessoas não merecem a minha confiança, a minha amizade e amor, as pessoas são falsas. Já a sabedoria popular diz: Mais vale só, que mal acompanhado; e é nisto que me vou refugiar!

Desculpem os demais, mas é inevitável não sentir isto…

Só quero estar fechado nesta minha conchinha, agora com paredes pintadas de azul celeste e bege, quero construir aqui o meu mundinho… sozinho…

6 de outubro de 2007

Altura dos "Porquês"! (Parte II)

Porque é que inventaram o voto de confiança se ninguém o aproveita quando lhe é dado?
Porque é que as pessoas não percebem que a mentira tem perna curta?
Porque é que as pessoas tem apenas uma amplitude de visão do tamanho do próprio umbigo?
Porque é que quem semeia ventos, não percebe que pode colher tornados?
Porque é que, eu não tenho sorte, nem ao amor nem ao jogo?
Porque é que, um pouco a mais de álcool, dá dores de cabeça no dia seguinte?

Ontem foi um dia de muitas emoções, desilusões e azar no Poker!
Ainda estou a tentar perceber quem é o verdadeiro culpado pela minha dor de cabeça; Se é as Caipirinhas, os Martinis, o Whiskey, os Favaítos ou a cerveja...
Tenho que reorganizar as minhas ideias, mas hoje não...

2 de outubro de 2007

Humanamente falando, ou escrevendo.

Assumo, desde já, a minha meia-culpa e a minha máxima desculpa de um algo que não cometi, contudo é certo que se, antes de cada acto nosso, nos fosse permitido prever as consequências dele; primeiro as imediatas seguidas das prováveis, depois as possíveis e por fim as imagináveis, é certo e sabido que não nos mexeríamos do local onde o primeiro pensamento nos fizesse parar!

Quero crer que, tanto os bons como os maus resultados dos nossos feitos, se distribuem uniformemente por todos os dias do nosso futuro, incluindo aqueles dias longínquos, em que já não estaremos cá para poder comprová-los, para nos felicitarem ou então para pedirmos perdão! Esta é que poderá ser a tão falada imortalidade.

Hoje, este cliché não me saiu da cabeça; Desculpas não se pedem, evitam-se.

E os erros também se podem evitar?

1 de outubro de 2007

Quando a minha mente "pecca".

A noite chegou densa. O dia fora carregado de cinzento. Ao céu não foi permitido mostrar o seu esplendoroso azul celeste.

Da minha varanda contemplo o nevoeiro que não me deixa ver para lá da rua detrás. Há apenas algumas luzes que lutam por se fazer ver, corajosas e solitárias, tentam contrariar a reduzida visão.

Sente-se no ar o misticismo que esta névoa, por si só, acarreta.

Já algum tempo que me questiono sobre algumas coisas e agora entendo que toda a minha sapiência de nada me serve, quando os factos recorrem directamente a mim. Vejo que, também eu, estou cego pelo nevoeiro que se instalou na minha vida.

Sinto raiva de mim, ou mesmo repúdio.

Observo uma tesoura no cimo da mesa, e tomo a liberdade de incriminá-la na minha doença, usando-me dela para rasga o meu peito e abrir o meu coração, mas para meu espanto tudo o que sinto é apenas o velho bafio do vazio que em mim se instaurou.

Sinto-me a salivar de tanto acre saborear. Há um tom de azedo no ar e minha mente não para de culpar aquela tesoura pelo corte incisivo que fez no meu peito.

“Acorda Nuno!”, oiço eu! Estarei eu a sonhar? Mas logo sinto o quente fluido que se esvai pelo meu peito. Não é sangue, para meu espanto! São apenas lágrimas choradas pelo por uma alma mal lavada.

Não entendo o que os anjos querem de mim, não percebo se me pedem perseverança e insanidade ou pedem apenas para eu não ser mais quem eu nunca fui.

Já não sei mais que pensar… Estou cansado de ser uma marioneta nas mãos da vida, estou farto da sua hipócrita ironia, estou cansado de ver o que não me era permitido ver, estou exausto, estou… cego…