30 de agosto de 2007

Há um vento frio no ar!

"Era um café e um copo de água, por favor.” – Simpaticamente, alguém pede ao barman.

Foi desta forma que acordei da minha viagem. Decidi então ordenar um capuchino e uma torrada para forrar o meu estômago.

Aqui me encontro eu, numa mesa de um bar, a espera de alguma coisa! Estou sentado, lado a lado, com o meu irmão. Está lendo em silêncio um qualquer livro. Fez-me lembrar que há algum tempo que nada leio…

A falta de cumplicidade entre mim e ele deixa-me com uma vontade de escrever, mas hoje, as minhas frustrações parecem estar bastante encrostadas em mim, ao ponto de não as conseguir soltar neste pedaço de papel virtual.

O sol, batendo na minha cara, provoca uma sensação estranha pelo meu corpo quando misturado com o fresco ar que sai do ar condicionado. É um misto de quente-frio que me deixa suado e arrepiado.

Vou degustando um caramelo na esperança que ele me traga algo de doce à vida para alem do sabor que se vai entranhando na minha boca, mas nada parece mudar.

Observo as flores que uma rapariga trás com ela e no meio daquele bonito embrulho, consigo vislumbrar rosas. Sem que pudesse contrariar o meu pensamento, tal imagem faz-me recuar alguns dias e lembrar-me de uma rosa em particular que originou em mim um misto de sensações.

De facto, as rosas são flores cínicas, são flores de aparência frágil, bela e romântica, de odores enfeitiçantes, mas todos sabemos que se não lhes soubermos pegar, poderemos magoar os dedos. São os espinhos, de tão belo aroma, que não nos permitem desfrutar todo o seu esplendor! Se lhe cortarmos os espinhos, a rosa deixa de ser rosa, e passa a ser uma flor mutada a vontade do ser humano. Deixa de ser original, casta, pura para ser mais uma coisa manipulada ao nosso bem-querer.

É na pureza das coisas que está o seu valor, e no caso da rosa, é o desafio de podermos aprecia-la nas nossas mãos, completa e sem nos magoarmos que dá ainda mais beleza à flor.

Por vezes sinto-me como a rosa, no meu estado puro, poderei ser difícil de tolerar, de apreciar e por essa razão as pessoas tentam sempre criar em mim aquilo que não existe. É com normalidade que, depois as pessoas me achem estranho, diferente, fora do normal. As pessoas ficam com receio de me “pegar” pois eu permaneço irredutível em deixar que me cortem os “espinhos”. Esse obstáculo faz com que as pessoas apenas me queiram apreciar dentro de uma jarra qualquer.

Nunca pensei vir um dia a concordar que a vida é mesmo como um mar de rosas… se não soubermos nadar nela, vamos nos magoar muito…

29 de agosto de 2007

Problemas de expressão!

Passa pouco das 4 da manhã. Encontro-me há quase 36 horas acordado e por incrível que pareça o sono teima em não chegar. A insónia parece ter-me adoptado como companheiro, para que eu possa tentar perceber em que mundo me encontro. Sim eu não consigo entender que raio de planeta é este! Por vezes quero crer que vim doutro sistema planetário.

Começo por me sentir um pouco esquisito quando me deparo com um dos maiores de todos os males; a incompreensível de falta de comunicação entre as pessoas! Sim, para mim, este é a origem de todos os outros males.

Hoje, percebo que as pessoas, há muito tempo que perderam o respeito umas pelas outras. Por todo lado vejo amigos, namorados, vizinhos, conhecidos ou colegas de trabalho discutindo por tudo e por nada, discussões sem razão alguma, brigas sem justificação.

Por vezes as discussões são inevitáveis, mas quando isso acontece, em vez de se sentarem e conversarem civilizadamente, não! Põem-se logo a apedrejar o outro, com o arsenal de pedras que acumularam no desenrolar de situações!

Quem me conhece sabe que eu não deixo passar nada em branco, se não gostei de alguma coisa, digo-o na hora, sem rodeios ou papas na língua. Não gosto de engolir sapos para depois poder mandar a cara. Daí, se calhar, alguns dos meus amigos me dizerem, que por vezes, tenho atitudes mais ríspidas, que por vezes, pareço pouco tolerante, mas não simplesmente estou a deixar tudo em pratos limpos. Pode ser uma filosofia que transpareça alguma agressividade, algum moralismo, pois eu não deixo passar uma, mas eu posso dizer que não tenho desavenças com nenhum dos meus muitos amigos! O que eu acho ou penso fica bem claro!

Sinto-me triste por ver alguns bons amigos que hoje mal se conseguem falar sem se atacarem, sinto-me triste por ver alguns casais de namorados que não conseguem passar mais de 5 minutos sem gritaram um com o outro, sinto-me triste por as pessoas não se conseguirem tolerar, não conseguirem dialogar (diálogo deve ser uma coisa que muitos devem desconhecer de todo), não conseguem falar sem gritar!

Depois há quem me acuse de intolerância e rude! A mim, que não preciso de levantar a voz para me fazer ouvir, enquanto que outras pessoas, as conversas começam a -50Db e terminam a 10Db. Parece uma competição estúpida para ver quem fica por cima, e no final nada resolvem! Ficam logo prontos para outra discussão!

Quem me conhece sabe bem que a minha base para qualquer relação é o diálogo, logo seguido pelo respeito e tolerância, e por ser assim, começo a sentir-me único!

Com isto não quero dizer que não tenho discussões, não tenha as minhas arrelias, mas acho que tenho a capacidade de perceber que depois da tempestade, é preciso esclarecer e resolver as coisas, sem agressividade verbal. Também não quero dizer que eu é que estou certo, mas acho que quando gostamos de alguém queremos é estar bem com ela e não com a sensação que temos o papo cheio de sapos e que está prestes a rebentar…

28 de agosto de 2007

Eu... já...

Já caí muitas vezes, mas já me levantei muitas mais!
Já chorei imenso.
Já me arrependi muito na vida.
Já baixei algumas vezes os braços, mas já bati muito com o pé.
Já bati muitas vezes com a cabeça.
Já aprendi muito com a vida, mas sinto que ainda tenho muito a aprender.
Já fui condenado por ser honesto e dizer sempre o que penso.
Já fui criticado injustamente.
Já fui criticado justamente.
Já critiquei com justiça, mas também já o fiz sem justiça.
Já me desiludi muito na vida.
Já dei a volta por cima.
Já fui muito teimoso.

Já tive medo de arriscar.
Já agi de cabeça quente.

Já me senti morto por dentro.
Já me senti oprimido.
Já fui sufocado.
Já fui enganado e também já enganei.
Já sorri quando a minha vontade era chorar.
Já chorei quando tudo o que queria era sorrir.
Já amei.
Já fui amado.
Já desisti do que amava.
Já senti, por entre o vidro a boca que dizia amar-me.
Já me senti completo… e por isso…
Já sou muito feliz!
Já tentei perdoar o que não tinha perdão.
Já tentei esquecer o inesquecível.
Já tentei substituir o insubstituível.
Já aprendi que, por vezes, apoiamos os nossos maiores sonhos em grandes pessoas, mas o tempo é cruel, por vezes mostra-nos que grandes eram só os sonhos e que as pessoas eram pequenas demais para os tornar realidade.

27 de agosto de 2007

24 de agosto de 2007

Porque há dias assim…


O barulho de fundo fez despertar o meu consciente. Algo ecoava pelas divisões da minha casa e o meu quarto não era excepção. Não cheguei a perceber que som era aquele, mas assim abri um pouco os olhos, constatei que a manha já havia passado. Entendi que o meu corpo já algum tempo que pedia descanso. O meu irmão ainda dormia profundamente, por isso deixei a aparelhagem desligada e dirigi-me ao banho.

Deambulei um pouco pela casa de boxers até perceber que a namorada do meu irmão se encontrava presente. Seria a primeira vez, neste dia que me sentia a mais na minha própria casa. Já vestido, dirigi-me à cozinha e lá tirei a minha primeira auto-análise do dia; fazia dias que andava com uma falta incessante de apetite. Optei então por aconchegar o estômago com apenas um copo de leite.

Após ter arrumado o meu quarto, tentei arranjar um plano para desfrutar um pouco do que restava do meu dia… mas nada me surgiu. Foi então que, pela segunda vez no dia me senti a mais no meu próprio domicilio. O olhar do meu irmão implorava por um pouco de privacidade e assim chegava a conclusão que tinha que sair.

Em parte a ideia agradava-me, pois as paredes do meu quarto há muito que deixaram de me inspirar e eu precisava muito de escrever. Arrumei tudo e arranquei em direcção de alguma coisa.

O calor apertava, sentia-se o suor das pessoas em todo lado, e eu parecia não ser excepção.

Chegava ao bar tropeçando em todos os olhares que se focavam em mim e assim me senti pequeno e estranho. Procurei por um lugar onde me sentisse inspirado e aqui me sentei.

Contudo a inspiração tardou a chegar.

Acordei do meu transe quando percebi que o copo estava vazio, o cigarro morto e a pastilha já não tinha sabor. Entendi então que o que é doce não amarga, mas perde o sabor e fiquei a pensar se não seria por isso que as pessoas estão sempre a dizer que eu sou um doce de pessoa. Fiquei assustado com tamanha dedução.

O violino e o piano inundam o meu cérebro de melodias que me fazeram regressar ao passado. Apesar do calor hoje sentido, as minhas memorias foram-se encontrar em noites de Inverno, onde a lenha estalava na fogueira, onde o som do romance se espalhava no ar e sentado num puff, lado a lado com outra pessoa, bebíamos um bom vinho que gentilmente animava a noite. Horas ouvindo a chuva cair, vendo o fogo consumir lentamente os troncos de madeira como se estivesse a degustar um doce raro. Era como apreciar um belo espectáculo de magia, um espectáculo que nos fazia brilhar os olhos após cada número.

Mas as memorias ao passado pertencem e hoje nada daquilo teria o mesmo sentido; hoje minhas retinas fixam-se noutros olhos, que tristemente parecem distantes de algo.

Teus olhos negam a existência de entes superiores! Tu és a prova que os Deuses não existem! Não lhes seria perdoado tal pecado.

Embalado pelo malte e pela cevada, sonho o meu sonho mais profundo, o sonho de mergulhar no infinito particular dos teus olhos e deixar-me inspirar pelo pecado que eles acarretam, o pecado de me deixar flutuar pelos aromas e fragrâncias da tua existência, de me envolver no teu paladar e deixar-me derreter sobre o calor da tua voz.

Se gostar de ti é pecado, eu quero arder no inferno, se gostar de ti é errado, já mais quero estar certo.

O problema é que eu, para ti, também sou como um doce! Começo a ficar cansado desta amarga vida de ser uma pessoa diferente, contudo refuto a hipótese de vir a mudar, pois apesar de tudo, gosto de mim, gosto de como sou, orgulho-me muito do que me tornei e estou a tornar. Se a vida não me der a hipótese de pecar, vou seguir em frente lutando para que o meu fado seja diferente um dia.

Já me sinto um pouco zonzo e paro para tentar perceber o que me deixara assim. Será o malte ou a cevada? O calor ou a música que me embala nesta odisseia?

Olhei para o relógio, mas não quis interpretar as horas. Senti que o tempo me desafiava para uma guerra à qual eu não quero entrar, pois tenho plena consciência que é uma guerra perdida a partida. Gosto de lutar mas só quando sei que tenho uma hipótese, não vou gastar mais energias em desafios que não me constroem.

Foco-me em qualquer coisa. Nas pessoas que estão na piscina, nas que estão no bar, nas que estão longe. Tento encontrar uma qualquer inspiração para fazer algo de novo, um desafio que muitos, gentilmente, me têm colocado; escrever um livro, mas com muito arrependimento e frustração vejo que não sou privilegiado com esse dom, e espero não desapontar ninguém. Contudo agradeço todo o vosso apoio, carinho e incentivo, mas ainda não me sinto preparado para tal.

Observo a minha carteira, e vejo que me é permitido ordenar mais uma cerveja. A ausência de comida no meu estômago parece deixar-me mais tonto, contudo o transe parece ser bastante agradável. Encosto-me para trás e choro lágrimas de alegria. Choro choros que ninguém pode ouvir ou ver. Choro por perceber que sou aquele que, por mais vezes que a vida castigue, todos os dias acordo com um sorriso no rosto e com vontade de lutar por algo mais.

"Felicidade: ventura; bem-estar; contentamento; bom resultado ou bom êxito; dita; qualidade ou estado de quem é feliz.”

Será que também nesta definição não se podia incluir, “estado ou qualidade daquele que acredita nele próprio”? Pois eu sou feliz, uns dias mais que outros, mas sou, porque hoje sinto que me demarquei pela unicidade, porque lutei por ser diferente e sempre acreditei que os grandes objectivos formam os grandes carácteres.

Sou feliz sim, e vou continuar a lutar por isso!

22 de agosto de 2007

Fim de jogo!

Por mais valente que seja, há situações que não passo de um fraquinho!
Posso ser pobre, mas consigo ser feliz e bondoso!
Posso ser pequenino, mas sou saudável!
Sonho muito alto, mas ainda não passei do chão!
Até sou ajuizado, mas por vezes passo-me!
Por mais perdido que pareça estar, tenho sempre esperança!
E se estou errando; desculpa!
Estou cansado, mas não paro de trabalhar!
Sou cauteloso, mas ando sempre relaxado!
E quando achas que eu ainda estou aqui; já parti!
Sou jovem, mas possuo bastante sabedoria!
Sou muito amigo, mas por vezes sou rígido!
Posso estar doente, mas continuo bonito!
Estou desmotivado, mas sem muito bem o meu valor!
E se agora estou triste, não deixo de sorrir!

É por tudo isto que gostas de mim, mas adivinha lá? O teu tempo já passou!
Já não quero ser a ligadura, pois a ferida é só tua.
Não quero bajulado por aquilo que represento em ti! Não quero ser a tua ama-seca nem a tua mãe, pois já és bem grandinha e não te carreguei 9 meses!
Não quero ser responsável pelo fraquejar do teu coração!
Não quero ser o preenchimento do teu vazio, não quero mais ser o substituto para o fumo que tu inalas!
Já não quero ser a tua outra metade, até porque eu acredito que 1+1=2!
Não quero ser o teu herói, pois eu até vertigens tenho!
Eu não vou voltar a ser a cola que mantêm os teus pedacinhos unidos!

Não quero que me agradeças por nada!
Esquece-me! Agora é tarde para me dares valor!

21 de agosto de 2007

I Daydream


O sabor amargo do café fez-me lembrar que nem tudo na vida é doce, mantendo-me assim longe de ilusões. A chávena, o cinzeiro e o jornal davam o toque final ao cenário pitoresco de um café conhecido no meio de uma avenida lisboeta bastante movimentada.

Sentado absorvia o tempo folhando o jornal na diagonal enquanto reparava no contraste de uma rapariga vestida de rosa com outras duas totalmente vestidas de preto. A dormência começou a apoderar-se de mim, e assim acabei por tomar a decisão de me movimentar.

As ruas estavam cobertas de turistas, os edifícios mostravam-se atraentes para essas pessoas, mas eu que ali passara tantas vezes, nunca me apercebera de tamanha beleza.

A música acompanhava-me e eu, caminhando de cabeça erguida, ia observando a harmonia da mistura da brisa com o verde das folhagens e o azul celeste do céu, harmonia essa que dava um tom bizarro a tela, quando misturada com a azafama que se encontrava na rua.

Á medida que caminhava foi ficando mais clara a antítese daquele meio. A opulência de certos veículos, o vislumbre das lojas e a ostentação de algumas pessoas fazia sobressair ainda mais a miséria daqueles que nas portas estavam sentados com uma mão esticada.

Senti-me apoquentado e assim que vi aquele senhor de barba grande, com uma idade aparente, certamente muito superior a real, não resisti e abri a minha carteira. O pouco dinheiro que tinha dividi-o em duas partes iguais e deixei uma delas, na mão áspera daquele senhor que gentilmente me desejou sorte.

Mais a frente uma senhora esticava a mão, também. O seu rosto não conseguia disfarçar os muitos Invernos que vira passar. Parei, e desta vez não pensei e a parcela que me sobrara rapidamente não era mais minha.

“Deus o ajude!” disse ela, e eu pensei… talvez ele até exista.

Não tenho a bondade de São Martinho ou a moral de Sto António quando deu o sermão aos peixes, mas senti-me mais leve e muito mais humano. Ficara sem dinheiro, mas o alívio era muito grande, senti-me uma pessoa melhor.

Já sentado no banco do jardim, descansei a cabeça. Os raios de sol penetravam por entre as folhagens aqueciam-me o rosto e o coração. Ali fiquei a fumar a alma e a consumir o meu espírito, ali estava eu a sonhar acordado um sonho onde era difícil de perceber onde terminava o real e começava o surreal, mas naquele banco fiquei a sonhar mais um pouco a espera que o tempo passasse ou que alguém chegasse e me sussurrasse ao ouvido “Já cheguei”.

Assim o tempo passou e eu apenas sonhando...

20 de agosto de 2007

Kiss of life.


É complicado, por vezes, entender os desígnios da vida.

Hoje acordei, zuado pelo barulho do vento, empedrecido pelo escuro que se propagava pelo meu quarto.

“Que horas serão?”

A questão não acarretava preocupação e assim rolei mais um pouco pelos lençóis virgens que me acariciavam o corpo. Senti o meu paladar dormente e a vontade cansada e assim fechei novamente os olhos.

Voltei a acordar, mas desta vez sobressaltado. Algo me apertara o peito, e a falta de ar fizera com que eu despertasse para este mundo. Não mais fechei os olhos que se fixaram nas paredes do meu quarto. Os cortinados serrados não me permitiam ver o bonito dia que se erguera.

“Que horas serão?”

Desta vez a curiosidade venceu a minha apatia matinal. O dia já ia alto e no rasgo de energia levantei-me da cama e abri o cortinado. A luz do sol inundou o meu quarto e o meu ser levando-me a abrir a porta da minha varanda e a respirar bem fundo para aproveitar todos odores que se espalhavam pelo ar, nesta bela e amena manhã de verão.

Em minha casa havia sido imposto o silêncio por força de não haver mais ninguém nela, para alem de mim e da minha solidão presencial.

Avancei até ao chuveiro e ali me deixei estar por largos minutos a descansar a alma e o corpo que ainda estava dormente. Deixei que a água me batesse no rosto para lavar qualquer vestígio da noite anterior e foi como receber um beijo da vida.

O quarto estava desarrumado, desorganizado, descaracterizado de tudo aquilo que eu sou. Havia algo a mais naquele pequeno espaço físico, algo que perturbava o ambiente que eu tanto cultivo. Era o silêncio… e antes mesmo que ele pudesse reclamar um qualquer cantinho, liguei a aparelhagem bem alto e mesmo antes de eu virar as costas, ele já havia partido. Agora havia algo que estava em falta… Era a fragrância do incenso ardendo com tudo o que me pudesse trazer melancolia.

O aroma das flores do meu quintal misturadas com o odor do incenso trazia uma paz infindável ao meu cantinho dando a harmonia ideal para desfrutar o som que se propagava. O sabor do café despertava o sentido do paladar e sem que eu percebesse estava sentado em cima do meu fiel companheiro, o meu puff, observando o desenrolar do tempo sobre o rio Tejo.

“Que horas serão?”

Era tempo de ficar mais um pouco ali perdido no tempo, no espaço e em tudo o que me rodeava.

Eu estava longe… e lá fiquei a apaixonar-me por tudo aquilo que eu imaginava ver. Apercebia-me que já há muito tempo que não sonhava acordado e perante tal constatação sorri, sorri muito, sorri para mim, para a vida, para tudo o que me rodeava.

Então encostei-me para trás e perguntei-me:

“Que horas serão?”

Who cares…

18 de agosto de 2007

Um pouco de surrealismo.


São momentos intensos de algo que me transcende. São breves instantes que parecem durar uma vida. São momentos onde a antítese do prazer da proximidade se envolve com a dor atroz da curta distancia que nos separa. São instantes onde tudo parece nada quando estás ao meu lado.

Silêncios quebrados pelos sons mudos que proferimos. Enaltece-se a minha cegueira conduzida pelo ofuscar da tua luz. Quebram-se regras e tabus, estratégias ou dogmas. Nada resiste ao trovejar que corre nas minhas artérias.

É como observar-te no negrume, é como proferir o teu nome de boca fechada, é como ouvir a tua voz no fundo do oceano.

Rasga-se o vento, as luzes e o som. Cessam-se batalhas, travam-se guerras, curam-se as feridas e derrubam-se barreiras.

Perco-me, com uma facilidade quase que absurda, nos teus olhos. Sinto um fraquejar quando inalo as flores que em ti habitam. São rosas ou amores-perfeitos? São lírios ou pétalas de lótus? Só sei que são odores que me fazer voar por entre as brisas que correm pelo o meu corpo rasgando-me o peito, violentando-me contra o chão.

Exausto, luto contra o ribombar do meu coração com medo que tu o oiças a brandir. Sinto-me pequeno ao lado de tanta destreza presencial.


16 de agosto de 2007

"Mudas-tea!!!"


Sentado sobre a brisa que corre na minha varanda, observo o manto negro que se expande pelo céu. Milhares de luzes inundam os meus olhos, umas provenientes desse negrume, outras da cidade que a minha frente se veste de publicidades coloridas. Um silêncio sepulcral instala-se, permitindo-me ouvir o estalar do cigarro a arder por entre cada travo. O chá está agradavelmente quente e vai-me embalando os sonhos.

Decidi colocar os headphones e curiosamente tocava um som extremamente relaxante. Não pensei duas vezes, e quando dei por mim já tinha colocado a música, Moments in love dos Art of Noise, na re-re-repetição.

Eu estava ali, mas não estava. O êxtase provocado pelo chá, som e fumo colocara-me longe de tudo. Senti-me numa outra dimensão, onde o tempo não fazia sentido, onde a viagem parecia não ter regresso, passado ou presente, onde todo que eu via era a estrada que se estendia a minha frente e que apenas me queria guiar ao meu futuro.

Extasiado, voei, nadei, corri mares e oceanos, continentes e céus e com a simplicidade com que começara esta viagem… terminava.

Já livre de todos os sonhos e pesadelos, dei mais um trago no chá e mirei o infinito.

Agora observo, com clareza como tudo parece estar a mudar. Sinto-me infinitamente mais forte, mais experiente, mais confiante, sinto que consegui aprender com os meus erros. Passei um ano de desmotivação e sem autoconfiança sem razão aparente. Abracei a tristeza por me ter entregue a pessoas sem qualquer interesse, contudo tristezas não pagam dívidas e mesmo que pagassem, eu ainda não as tenho por isso tenho tocado a minha vida para a frente. Estes últimos dois meses tem me feito um bem enorme. A faculdade correu acima das expectativas e tenho me relacionado com muita gente nova que me tem dado um animo e uma motivação muito grande.

Sinto-me, novamente, capaz de tudo aquilo que eu acredito e luto. É bom ver que aquele Nuno que eu próprio não conhecia está mais que enterrado.

É bom ser creditado por aqueles que um dia acharam que eu não estava à altura, é bom ser reconhecido por quem me conhece, por quem julgava que me conhecia e por quem pouco me conhece. Tenho sido acariciado com muitos elogios, mas isso não me vai fazer parar para me babar frente ao espelho, vai (e está) dar-me mais forças para melhorar sempre mais, pois quem me conhece bem sabe que: “Inconformado, sempre… Resignado, nunca!”.

Hoje respiro tranquilidade e paz de espírito.

Paro com a reflexão, bebo o último gole de chá, fixo mais uma vez as retinas sobre o manto de luzes que cobre Lisboa. Apaixono-me mais um pouco por este momento e desfruto do som que se entranha pelos meus ouvidos. Inspiro fundo e deixo o fresco ar entrar pelos pulmões fazendo a minha temperatura baixar um pouco. Tudo parece puro, casto, inocente, relaxante. Emancipa-se o meu fascínio pela vida e fico cognescente que tudo o que eu almejo são as coisas simples que a vida nos pode proporcionar. Eu acredito que é na simplicidade que estão as coisas boas da vida.

14 de agosto de 2007

Andarilhos Gigantes

Todos os dias me apercebo melhor o quanto são complicadas as entranhas da amizade e do amor. São sentimentos que por vezes têm o poder de abalar os alicerces de qualquer estrutura, por mais sólida que seja. São como andarilhos gigantes que tão facilmente nos enaltecem, como nos proporcionam grandes quedas. A tradicional faca de dois gumes.

Hoje, longe de tudo, numa terra tão familiarmente desconhecida, luto por me abstrair daquilo que me corrói, mas ainda não inventaram o botão “on/off” para o nosso pensamento e por isso mesmo a minha mala veio tão pesada quanto o ambiente que deixei no meu quarto.

Sinto-me demasiado inocente para este mundo de sentimentos selvagens que atropelam tudo e todos, sem nunca olharem para trás e nesse aspecto eu fui cilindrado! Estou cansado desta vida que levo, preciso de estabilidade emocional, estou exausto de ser um objecto de diversão, de ser olhado como um corpo. Começo a ficar saturado de sexo por sexo, preciso de alguém que me queira guardar o meu sono, eu só quero alguém que me queira acariciar e ser acariciada, uma pessoa que me queira amar por aquilo que sou e não por aquilo que ostento.

De facto mais vale sofrer-se junto do que ser feliz sozinho, isto porque ninguém é feliz sozinho.

Estou a lutar contra a minha própria sombra… (1 Agosto de 2007)