20 de agosto de 2007

Kiss of life.


É complicado, por vezes, entender os desígnios da vida.

Hoje acordei, zuado pelo barulho do vento, empedrecido pelo escuro que se propagava pelo meu quarto.

“Que horas serão?”

A questão não acarretava preocupação e assim rolei mais um pouco pelos lençóis virgens que me acariciavam o corpo. Senti o meu paladar dormente e a vontade cansada e assim fechei novamente os olhos.

Voltei a acordar, mas desta vez sobressaltado. Algo me apertara o peito, e a falta de ar fizera com que eu despertasse para este mundo. Não mais fechei os olhos que se fixaram nas paredes do meu quarto. Os cortinados serrados não me permitiam ver o bonito dia que se erguera.

“Que horas serão?”

Desta vez a curiosidade venceu a minha apatia matinal. O dia já ia alto e no rasgo de energia levantei-me da cama e abri o cortinado. A luz do sol inundou o meu quarto e o meu ser levando-me a abrir a porta da minha varanda e a respirar bem fundo para aproveitar todos odores que se espalhavam pelo ar, nesta bela e amena manhã de verão.

Em minha casa havia sido imposto o silêncio por força de não haver mais ninguém nela, para alem de mim e da minha solidão presencial.

Avancei até ao chuveiro e ali me deixei estar por largos minutos a descansar a alma e o corpo que ainda estava dormente. Deixei que a água me batesse no rosto para lavar qualquer vestígio da noite anterior e foi como receber um beijo da vida.

O quarto estava desarrumado, desorganizado, descaracterizado de tudo aquilo que eu sou. Havia algo a mais naquele pequeno espaço físico, algo que perturbava o ambiente que eu tanto cultivo. Era o silêncio… e antes mesmo que ele pudesse reclamar um qualquer cantinho, liguei a aparelhagem bem alto e mesmo antes de eu virar as costas, ele já havia partido. Agora havia algo que estava em falta… Era a fragrância do incenso ardendo com tudo o que me pudesse trazer melancolia.

O aroma das flores do meu quintal misturadas com o odor do incenso trazia uma paz infindável ao meu cantinho dando a harmonia ideal para desfrutar o som que se propagava. O sabor do café despertava o sentido do paladar e sem que eu percebesse estava sentado em cima do meu fiel companheiro, o meu puff, observando o desenrolar do tempo sobre o rio Tejo.

“Que horas serão?”

Era tempo de ficar mais um pouco ali perdido no tempo, no espaço e em tudo o que me rodeava.

Eu estava longe… e lá fiquei a apaixonar-me por tudo aquilo que eu imaginava ver. Apercebia-me que já há muito tempo que não sonhava acordado e perante tal constatação sorri, sorri muito, sorri para mim, para a vida, para tudo o que me rodeava.

Então encostei-me para trás e perguntei-me:

“Que horas serão?”

Who cares…

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