24 de setembro de 2007

Estado de Sítio: O diz que disse!


Neste texto vou pedir a todos um pequeno exercício mental:

Vamos supor um universo de pessoas de domínio: A, B, C, D, E, X e Z.

Agora vamos supor que neste universo as pessoas estão ligadas entre elas de forma directa e indirectamente.

Nestas condições vamos estabelecer uma “condição de fronteira” para começar a desenvolver o problema, vamos imaginar que a pessoa X, tem uma dor de dentes. A pessoa A toma conhecimento do facto através de X, sem grandes pormenores, e em conversa com B, A diz:

- B, Sabias que X tem uma dor de dentes? ACHO que foi por ter comido um caramelo hoje de manhã!

Ao que B comenta:

- Ninguém o mandou comer doces!

Entretanto B encontrou C e disse:

- Já ouviste? X tem uma dor de dentes! FOI porque comeu um caramelo! ACHO que ele não lava os dentes!

Ao que C pergunta:

- Como soubeste isso?

E B diz que ACHA que foi Z que disse a A.

Então uns dias depois C encontra D na rua e diz:

- Tu nem sabes o que aconteceu a X! Está de cama com uma infecção dentária que não lembra a ninguém! FOI porque comeu um pacote de caramelos e nunca lavou os dentes! ACHO que os dentes dele nunca viram um dentista!

- E como é que tu sabes disso? Pergunta D espantado.

- FOI Z que disse isso a toda gente! Não se pode confiar muito nele, ele chiba-se de tudo!

Contudo D, em conversa com E disse:

- Ouve! Nem sabes o que me disseram no outro dia! O X tem a boca toda infectada! Tem os dentes todos infectados!

- Então porquê? Perguntou E.

- FOI porque devorou um quilo de caramelos, nunca lavou os dentes e nunca foi ao dentista.

- Bem! Isso é muito grave! Como se soube?

Ao que o D disse que havia sido Z que tinha dado com a língua nos dentes!

- Bem, acho que vou deixar de falar com X pois é um pouco nojento e com o Z pois não é de confiar! Comenta E.

Entretanto X encontra Z, e X conta-lhe que nos dias anteriores tinha trincado um osso que lhe fizera doer um dente, mas como foi logo no dia seguinte ao dentista tudo ficou resolvido num instante e Z ficou feliz por ele, mas entretanto Z perguntou a X.

- Tens falado com A, B, C, D e E?

- Não?! E tu?

- Também não! Não entendo porque se afastaram de nós!

Este exercício de correlação social será mais fácil de perceberem, se conseguirem reparar a facilidade com que as pessoas passam do verbo ACHAR para o verbo SER. É estranhamente fácil para as pessoas passarem da suposição alheia para a certeza pessoal!
Tenho a certeza que muitos de vocês estarão familiarizados com este exercício, as únicas variáveis que provavelmente se alteram serão a tão falada condição de fronteira e a extensão do universo social, pois já vi que este tipo de problemas é constante quando há um grupo social e “dialogo” é uma palavra inexistente no dicionário de muitos.

Haja paciência… Haja coragem para se falar sem medo de ouvir!

20 de setembro de 2007

Altura dos "Porquês"!

Porque é que o sol, quando nasce, não nasce para todos?
Porque é que a vida não são só 2 dias?
Porque é que o mundo não é assim tão pequeno como dizem?
Porque é que tudo que vai nem sempre volta?
Porque é que não passaram um atestado de incompetência a quem sugeriu o tratado de Bolonha?
Porque é que as macieiras não dão bigornas? É que se dessem, Newton tinha aprendido da pior maneira a lei da gravidade e eu não tinha tanto com que me chatear hoje em dia!

Ufa! Este semestre vai ser muito complicado!

18 de setembro de 2007

A facto ad jus non datur consequentia; A posteriori.


O que é isto em que esbarrei? Onde é que o sentimento se perdeu? É nesse instante que a resposta bate-me a porta e vejo que ele se perdeu quando se começou a estabelecer regras exactas para ele se pudesse manifestar…

O horror está instalado em mim, tal como o pânico.

Ultimamente, tenho desejado ter um desejo, um desejo que me fizesse nunca mais querer outro, um desejo que fizesse com que nada mais interessasse, mas vejo que tudo o que me resta é esperar que o que me rodeia se dissolva numa fracção de segundos, apaziguando assim o meu anseio.

Cheguei ao fim do capítulo final de um qualquer livro. Li todas as páginas que encontrei e continuo sem encontrar uma resposta.

Tudo o que sei, é que tudo o que ousara ter sido, um dia, mais cedo ou mais tarde acabá por reflectir algo em mim. Essa é a única maneira que as coisas têm para ser.

Então aqui fiquei ao sol, respirando com os meus pulmões e com a minha alma, tentando me poupar da altitude da verdade que me diz que tudo o que alguma vez viram em mim, foi apenas um reflexo de um espelho, colocando assim a fasquia mais alta, fazendo o meu pensamento ousar desejar que eu me colocasse numa banheira cheia de água gelada para que esta ideia febril passasse.

Alcanço assim conclusão do dia: existe um momento certo para interromper tudo!

Apercebo-me que, o que realmente preciso é de um tempo para poder descansar este peso que o mundo pôs sobre os meus ombros, um tempo onde nada me seja questionado, onde eu consiga dar vazão a este pranto que na minha carne se encrostou, um tempo onde eu possa por fim baixar esta máscara de “forte e corajoso”, um tempo onde possa ser cobarde e invejoso…

Quero um momento onde todas estas dores atrozes que me rodeiam me invadam o corpo, um momento onde todo este ódio gerado se consuma em mim até ao meu último folgo e mesmo depois disso espero que todos respeitem e compreendam a minha decisão, mesmo que eu não a aceite, mesmo que eu não saiba lidar com ela…

11 de setembro de 2007

O último segredo dos oceanos.


Porque choraste tu?

Ainda vejo no teu rosto os cristais de sal que as tuas lágrimas deixaram.

Foi porque hoje os céus bocejaram violentamente ou porque ouviste as ondas baterem as asas que tu delicadamente teceste?

Será por não haver medicação ou consolação para as tuas feridas em mim cravadas?

Porque será que mordes suavemente os teus lábios, porque franzes tu as sobrancelhas nesse ar casto?

Por favor não chores, por favor não chores mais… Choras como se eu quisesse, fosse ou devesse te pedir desculpas por algo que não cometi.

Agora olhas-me como se um segredo me quisesses contar, mas não temas as marés ou os navios fantasma que por lá navegam, pois eu estarei sempre aqui para mergulhar no teu tesouro perdido para em mim guarda-lo. Amarei, para sempre, o teu peculiar prazer.

Contemplar-te-ei no infinito, pois tu és o último segredo e o mais pecaminoso dos desejos dos oceanos.

8 de setembro de 2007

Viagens


São instantes de inconsciência. Pequenos momentos onde a loucura faz parecer que a insanidade não passa de mera vaidade. Não me perguntem se íamos a 100, ou mesmo a 200, pois para mim íamos a 1000km/h. Com a cabeça fora da janela e com os braços esticados na esperança de apanhar o vento, gritei… gritei alto e em bom som, gritei gritos que, em prol da felicidade, se transformavam em rugidos. Desta forma abri a boca e deixei que o ar me sufocasse, me privasse de respirar. A velocidade era tanta que o meu pranto se dispersava nos milhares de luzes que provinham dos placares de publicidades e dos néons que anunciavam mais um bar.

Feliz é aquele que sente o vento bater-lhe no rosto!

Prosseguimos viagem, e eu, de olhos bem fechados tentava imaginar os locais por onde passávamos, tornando assim a viagem única, diferente, autêntica. Passei por lugares onde mais ninguém havia, ou haverá, passado, por ruas coloridas, por avenidas intermináveis, por vielas inimagináveis. Fiz a minha própria viagem, ao sabor do vento, ao sabor da noite, ao sabor da amizade

“Vamo-nos perder?”- perguntaram.

E eu não hesitei e disse…

“Ainda aqui estamos?”

6 de setembro de 2007

Em ponto de orvalho!


É impressionante como conseguimos nos inundar por preocupações fúteis. Hoje passei o dia assim, pensando em coisas sem grande interesse, relegando para segundo plano aquilo que talvez me fizesse crescer um pouco mais, ou que pelo menos me desse um pouco mais de qualidade de vida.

Tinha a cabeça a mil, quando vi que eram horas de ir preparar o jantar. A ausência de discernimento limitou a minha imaginação culinária a uma sopa!

Com a panela ao lume, vi que o sol já se punha e percebi que era altura ideal para ir regar o meu jardim.

O calor ainda se fazia sentir e foi com agrado que abri a torneira e preparei a ponta da mangueira para a configuração de pulverizador. Foi como uma sensação para a vida.

Descalço, com os pés nus sobre a relva molhada, senti o meu espírito recuperar o alento. Lavei a alma com as microscópicas gotas de água e senti a temperatura descer ao ponto da perfeição. O odor do alecrim, do rosmaninho e da alfazema molhado, flutuava no ar juntamente com o perfume das 101 flores que no meu jardim habitam. Um momento de magia pura, de uma leveza impar, de uma simplicidade inigualável que me enchia de felicidade, deixando-me por fim sem qualquer problema na cabeça até que…

“Fogo! Deixei a panela ao lume!”

3 de setembro de 2007

Longa se torna a espera!

O sol já deu lugar ao escuro da noite, contudo ainda se sente a sua presença na agradável temperatura. O tempo convida-me a puxar o meu puff para a varanda onde uma brisa suave se faz notar. Pela porta do meu quarto sai a fragrância do incenso que lentamente se consome. O chá devora-me o pensamento enquanto sacia a minha alma de algo mais. Respiro fundo na esperança de conseguir mais uma vez descrever esta imagem que eu não me canso de contemplar. São sete colinas enfeitadas com milhares de luzes que a esta distância mais parecem pedras preciosas encrostadas num manto negro. No céu apenas consigo vislumbrar uma única estrela e a lua hoje parece mais tímida que o normal.

A escuridão a minha volta obriga-me a voar daqui para fora. Voo para longe, voo para lá que fica já além mesmo, entre o “sol” e o “si”.

Perco-me pelas ruas e estreitos da vida e percebo que procuro algo. Algo que desconheço, mas que sei que não vou encontrar.

Lanço-me em desafios inalcançáveis com a esperança que eu, um dia, me supere e para espanto próprio me sinta um pouco mais capaz de algo.

Não consigo descrever o que sinto. É um misto de saudade, tristeza e felicidade. Estou sem capacidade de conseguir evidenciar os meus sentimentos e desta forma fecho um pouco os olhos há espera que a brisa passe mais uma vez e me dê um beijo.

Apenas a minha música quebra o silêncio instituído meu bairro, hoje parece que até os cães, que constantemente estão a ladrar, pararam para desfrutar desta noite. A suavidade das músicas flúi por mim deixando um restinho de magoa para com a vida. É estranho como me posso sentir feliz por ter a vida que tenho, mas ao mesmo tempo me sentir tão triste por tão poucas vezes me sentir acarinhado e amado. Sinto-me tão só como aquela estrela que se ergue no denso negrume do céu.

Respiro fundo e termino o chá; fecho os olhos e para lá eu volto antes que a tristeza se apodere de vez de mim. Está na altura de mudar de música, mas vou ficar por aqui a curtir a bonita noite que está!

Serei assim tão estranho?

Já não posso mais com isto!

Que se passa com a mocidade dos nossos dias? De tanto me dizerem coisas do género “Tu não és normal!?” ou do género “Onde estacionaste a nave?” ou “ De que sistema planetário vieste tu?” ou então “Quando é que bateste com a cabeça a ultima vez?”, começo a desconfiar que não sou mesmo nada normal e os meus encontros matinais com o espelho começam a deixar-me assustado.

Aqueles que não me conhecem bem estarão a pensar porque raio as pessoas continuam a dizer, insistentemente, tais afirmações. Devo frisar que a grande parte das afirmações são me dirigidas por elementos do sexo feminino que ficam espantadas por eu (um homem) saber cozinhar qualquer tipo de pratos (incluindo aqueles que eu não gosto), por todos os dias fazer a cama, por muitas vezes passar a minha roupa a ferro, por limpar a casa de banho, por lavar sempre a cozinha, por não gostar de ver a minha casa desarrumada ou suja.

Estas frases também são proferidas por eu acordar cedo, sempre que posso (incluindo nas ferias). Tenho que admitir que me faz um pouco de impressão quem passa as manhãs todas na cama até ao meio-dia ou mais. Uma vez por outra também eu o faço, mas prefiro acordar cedo e ir dar uma volta por um jardim qualquer ou ir até a praia.

A normalidade dos jovens de agora é deixar a roupa suja acumular no monte e quando não houver mais, ou se gasta uma pipa de massa na lavandaria, ou então começa-se a reciclar roupa. É também normalidade para um jovem a pirâmide de loiça no lava-loiça que alguns, orgulhosamente, exibem a quem a casa deles vai. Há também quem ache normal que não se faça a cama, pois a noite vai ter que a desfazer de novo; mediante tal afirmação fico-me a questionar se eles pensam o mesmo da mudança de lençóis. Depois há aqueles que passam a vida nos fast-food’s pois cozinhar da muito trabalho. Não poderia deixar também de referir aqueles que ostentam com brio a colecção de bolas de cotão que com muito esforço conseguiram acumular por detrás da porta do quarto, ou o mofo de pelos que está espalhado por toda a casa de banho.

Também sei que há aqueles que fazem todas as tarefas domésticas como eu, mas não acham normal o facto de o fazer sem frete. Eu faço tudo isso sem frete (vá passar a ferro aborrece-me um pouco) pois quem corre por gosto não cansa, e se se fizer um pouco todos os dias custa bem menos.

Eu não sei bem quem tem a noção de normalidade trocada, mas para tirar a prova dos 9, tive 2 dias (o máximo que consegui) a tentar ser um jovem “normal” e foi muito mau… experiência a não repetir. De facto, para mim, a normalidade está do meu lado e não vou abdicar do meu estilo de vida!

Em relação aos outros aspectos mais pessoais, pelos quais também me acham muito diferente do normal, vou-me abster pois nenhum advogado é bom em causa própria. Se gostam assim, ainda bem, se não gostam só tem que por na borda do prato.

Com isto é hora de ir fazer o jantar, pois já oiço vozes a protestar.