31 de março de 2007

Mente opaca!


Eram 11h da manha. Zonzo, arrastei-me pela casa. A luz solar penetrava lentamente pelo vidro baço pela humidade que se havia acumulado durante a noite por uma respiração triste. Os olhos, ainda estavam colados de remela, e eu já os tinha pregado a paisagem que me era oferecida pela minha varanda. O pensamento flutuava de nuvem em nuvem. De quando em vez, a minha atenção recaía sobre os automóveis que momentaneamente corriam pela estrada. Estava preso a mim mesmo. Senti-me pesado e dirigi-me a minha balança. Contudo ela mostrou-se contrária a tudo o que eu esperava, e foi quando houve um “click”. Percebi, ali, que ultimamente tudo se tem mostrado contrario as minhas expectativas. De facto, só posso ter um dom, o dom de cair tantas vezes seguidas. Não é fácil digerir tantas desilusões… Nessa altura entrei no duche e deixei-me ficar ali por largos minutos. A água levou com ela o sal que se tinha alojado no meu rosto, pelas lágrimas que eu havia soltado durante a noite. Senti o corpo a tremer, com se a água que corria pelo chuveiro estivesse gelada. Cheguei ao quarto, e percebi que estava cansado dele. Estava cansado da cor das paredes, dos móveis de madeira pesada, do chão de madeira, dos quadros nas paredes, dos cortinados, do odor a incenso. Abri as portas do guarda-roupa e chegava a triste conclusão que também estava cansado de todas as minhas camisas, t-shirts, calças, casacos e até mesmo da minha roupa interior. Decidi usar toda aquela roupa que não vestia a anos. Sem que me apercebesse estava sentado na minha cama, enquanto observava as todas as fotos que tenho fixadas no placard. O sal voltou a locar-se no meu rosto…

Agora são 11h da noite, há doze horas que estou aparentemente acordado, setecentos e vinte minutos onde não consegui libertar vitalidade. Quarenta e três mil e duzentos segundos de pura inércia. Meio dia em que não consegui afastar esta sensação de cansaço e tristeza. A noite chega a passos largos… e eu começo a temer a insónia, a temer mais uma noite mais dormida, mais uma noite a pensar em quem não merece um micro segundo de atenção de minha parte. Viver assim não tem gosto, viver assim não é viver. Lentamente degrado-me, lentamente me consumo por um sentimento desigual que me incapacita os movimentos e imobiliza os meus pensamentos.

Tudo é opaco, tudo é incerto, tudo é encoberto por um manto de intrigas e mentiras. Descubro que sou uma imagem de um ser que não existe. Sou o que os outros querem ver de mim, e deixa-me triste que essa imagem seja tudo aquilo que não sou, tudo aquilo que eu repudio. Arrogante, altivo, sério, rancoroso, pouco moderado, manipulador…

Estou farto de receber apenas o prémio de consolação, um prémio que fica aquém das minhas expectativas, aquém da minha ambição.

Nesta sala encontro-me rodeado de algumas pessoas que são do que melhor eu tenho, pessoas que me são uma das minhas poucas ligações a vida. São os piores 365 dias da minha curta, mas nada fácil, vida. Estou surpreendido com a minha capacidade de aguentar tantos pontapés, tantos socos… vejo que o que não mata, torna-nos mais fortes.

Por vezes pareço ter o meu avô a sussurrar-me ao ouvido, dizendo-me pela enésima vez que os fortes, enfraquecem, que os fracos, morrem. Pareço sentir a sua mão forte e áspera a afagar-me o cabelo… ele diz-me que agora só estou menos forte, como que a querer encorajar-me.

Sou como uma ferida aberta, uma ferida que teima em não cicatrizar, uma ferida, que quando estiver curada, vai deixar uma cicatriz como se de uma tatuagem se tratasse… algo que o tempo não apaga, algo terei de guardar para o resto da minha vida, para que uma fase como esta se possa evitar.

Não vou mais prometer que vou lutar para mudar o rumo de tudo o que se passa a minha volta. Vou deixar as coisas correrem, aguardando o melhor momento para as abordar. Não posso mais esperar por uma solução magica, por um ímpeto de coragem e força que me obrigue a lutar por um novo rumo, pois vejo que isso só emancipa mais dor.

Prometo manter-me fiel aos meus valores, a minha postura, a minha palavra… são tudo que tenho de maior valor!!! Prometo estimar todos os que me estimam, e subjugar todos os que não me souberam valorizar.

29 de março de 2007

Efeitos placebo!

Finges que ninguém pode achar as ilusões de uma rosa da manhã ou da fruta proibida.

Os teus olhos escondidos fazem referência ao que tu mais desprezas em mim.
Sinto-me encoberto pelas crenças cegas que fantasiam as tuas telas cheias de pecado.
Tolera os factos, assume uma cor, termina as promessas, não precisas mais de mentir.

Vive a vida e deixa viver…
Quem sou? O quê e por quê? Porque tudo o que me sobrou são as recordações de um ontem qualquer. São tempos ingratos e azedos.

Depois de um tempo o gosto amargo da inocência e decência, as sementes espalhadas, vidas enterradas, não são mais que mistérios dos nossos disfarces… mas a circunstância decidirá…
Varreste-me para longe de teus pés?
Recompuseste-te em pedra por essa crença absurda?
Olhos cheios de um pigmento sórdido. Não desesperes, pois este dia será o dia mais amaldiçoado, se me tirares essas coisas de mim.

Foste tu que alimentaste os contos com mentira, escondendo as línguas que precisavam de falar.
Mentiras subtis e uma moeda manchada… a verdade foi vendida, o pacto está feito, mas não desesperes.
Sem desafiar, sem sinais de regresso, o teu orgulho engolido assume o devido respeito.

O teu dia chegará, mas este dia é o dia mais amaldiçoado, por me teres tirado todas essas coisas de mim.

26 de março de 2007

Cambalhotas

Quem é este que vejo ao espelho?

Não sou eu.

Que é isto que escorre pela minha cara?

São lágrimas.

Que querem elas levar?

O ódio.

Mas ódio de que?

De mim.

Mais uma vez falhei, para não variar, mais uma vez me dei mal.

Estou num limite de rotura. Nada parece fazer sentido. É enlouquecedor o tic-tac do relógio.

Sinto que tenho de baixar os braços, não por quem merecia que eu me mantivesse na luta, mas sim por quem eu não quero magoar.

Não voltarei a ser pisado, pelo menos como tenho sido toda a minha vida. Para já é tudo que posso fazer.

Morre agora aqui aquele que nem chegou a nascer, antes que a insanidade se apodere de mim.

Preciso de um ânimo extra, preciso de ter algo em que me agarrar, preciso de paz e harmonia, preciso de me sentir amado.

Preciso de conseguir dormir descansado… e é isso que vou fazer.

Ode aos meus novos inimigos!

Se estava mal, agora nem sei…

Que ardor é este que sinto?

Raiva? Não, é mais forte que isso… é mesmo ódio. Um ódio corrosivo, tenebroso, diria mesmo mortal.

Há pessoas que conseguiram despertar o pior que há em mim, e isso vai ter consequências, pode não ser hoje, nem mesmo amanha, poderá ter que esperar 20 anos, mas essas pessoas pagaram.

Nunca pensei sentir o que sinto, nunca pensei retirar tanto prazer de uma vingança. Digo vos que neste momento estou a sorrir, pois neste momento só anseio pela destruição daqueles de quem só quis o bem, mas que me só fizeram mal.

Estou cego de ódio, estou cego de tanto rancor. Sinto adrenalina a correr no sangue, o coração está a mil e a respiração ofegante.

Nunca desejei mal nem ao meu pior inimigo, mas hoje é diferente, agora só penso numa maneira de fazer aqueles que me cilindraram ansiarem pela morte. Poderá ser exagero, mas é esse o meu novo alimento, é esse o meu novo objectivo de vida.

Estou cansado de me espezinharem, de se aproveitarem dos meus valores para os usarem contra mim. Agora sinto-me mais forte já que este ódio se sobrepõe a certos valores. Deixo assim de ter tantos pontos fracos para concentrar num só, pois assim saberei controlar melhor as coisas.

Tenho nojo de vós, de vós que levam uma vida hipócrita sem qualquer sentido. De vós que não tem outro objectivo, senão o de me inferiorizar. Agora vos digo, se me queriam destruir, só conseguiram erguer, e tornar-me no vosso pior inimigo.

Beware… não serei fraco mais uma vez.

25 de março de 2007

Nem sei o que pensar, muito menos o que fazer. Mais um tombo, um tombo que eu não podia ter sofrido. Começo a ver tudo a descambar, tudo a desmoronar-se. O cansaço apodera-se de mim, tomando-me como seu escravo. São derrotas consecutivas que abalam a moral mais forte.

Olhei-me ao espelho, comecei por me ver de perto e decidi dar dois passos atrás. Encarei-me e tentei perceber quando me transformei nisto. Estou assustado com o que ouvi de mim. Como pude eu transformar-me num tipo de pessoa que eu repudio? De facto não me conheço. De facto estou constantemente a surpreender-me. Dou por mim a perguntar quando, se é que vai haver um dia, é que me vou endireitar, quando vou conseguir acertar o passo.

A desilusão é maior que eu esperava.

Assim é difícil de viver.

Assim é difícil continuar a lutar.

Assim não vale a pena.

21 de março de 2007

E o meu encanto foi-se!

Observo as luzes que iluminam a vitrina. O fumo do cigarro atravessa-se pelos meus olhos sombrios.

São oito da noite, e eu pareço estar bêbado, outra vez. Os pensamentos estão turvos e a cabeça está latejar.

Por vezes penso que nunca mais poderei amar ninguém da mesma maneira que te amei. Sinto que onde terminas, é onde eu começo. Sinto que és como um rio que corre por todo lado.

Levem os meus olhos e o meu coração pois não preciso mais deles se eles nunca mais poisarem sobre aquela que amo.

Um copo para relembrar, outro para esquecer, como pude eu sonhar que um dia apareceria alguém para te substituir, mas a verdade é que até parece possível.

Mais um copo para relembrar e outro para esquecer.

Por vezes penso coisas impossíveis, enquanto o sol se recusa a brilhar. Hoje acordei com outra pessoa ao meu lado, mas as mãos dela estavam frias, e a cama vazia.

E é quando digo:

“Olhe desculpe, por favor chefe, sirva-me mais um copo, pode ser mais forte, pois não preciso de pensar. Ela partiu-me o coração e eu perdi o meu encanto… sirva-me mais um que depois eu vou andando…”

12 de março de 2007

Ventos que sopram adversos...

E de súbdito, foi como uma implosão de uma bomba atómica em mim.

Têm sido demasiados acontecimentos simultâneos, tantos que eu mal consigo processar a informação na sua totalidade.

É claro e evidente que não estou bem…

A complexidade de sentimentos que passa pela minha cabeça é absurda. Por um lado são aqueles que nos dizem tanto, que pelo facto de não estarem bem, não abona em nada há situação. Por outro lado estão aqueles que não nos deviam dizer nada, mas que nos deixa zonzos quando falam, e nos deixam destruídos quando não o fazem.

Confuso…

É impressionante, tudo o que se passa na minha cabeça. Turbilhões de pensamentos misturados com sentimento, ilusões, mas acima de tudo…desilusões. É fascinante esta capacidade de auto flagelação que se apodera de mim.

Estava tudo escrito, e eu até li, mas não quis acreditar, não quis interpretar o que era óbvio. Apenas limitei-me a somar galho a galho, acto esse que acabou por criar um esplendoroso monte de lenha, monte que depressa se transformou em fogueira, onde agora ardo lentamente numa dor que parece não terminar. Parece que o meu destino é destruir tudo aquilo que me envolvo, tudo o que toco. Agora vejo que não sei mais lidar com a racionalidade. Agora vejo que só tenho lugar para a emocionalidade.

Meus olhos parecem antever um futuro tenebroso, um futuro quase imediato.

Hoje perdi controlo de mim mesmo. Não sei o que se passa comigo. Ainda há um mês atrás, ficar fechado em casa a um domingo seria uma banalidade que nada me perturbaria, mas hoje, passei o dia todo em casa, sem ter ninguém com quem falar, e senti-me triste. Senti-me perturbado por tal facto. Dei por mim a olhar para o telemóvel há espera que algo acontecesse, que algo mudasse o meu dia, que alguém (mas não um alguém qualquer!) me dissesse algo que me acelerasse o coração.

Sinto que hoje chega ao fim mais uma jornada, uma jornada de ilusões, que apenas se transformaram em desilusões. Estou só mais uma vez, com sempre tive, como, acredito eu, que sempre estarei.

“Aprende com os erros dos outros, pois não vives tempo suficiente para cometeres todos esses erros”

7 de março de 2007

Shit happens!!!

De facto Lisboa há muito que deixou de ser uma cidade segura, ainda ontem ia calmamente a passear pelas ruas quando piso uma mina que ali havia sido depositada cuidadosamente por um estratega canino. Certamente havia sido colocada ali milimetricamente para que o alvo fosse atingido, EU. Claro que depois de tamanha pontaria fiquei confinado raspar os pés largos minutos.

Hoje decidi então caminhar com os olhos pregados ao chão, para ter a certeza que não seria mais um alvo fácil…desta vez estava atento, mas certamente alguém seria punido por andar descontraidamente pelas ruas. A crueldade das ruas lisboetas. Contudo, com tanta preocupação com as prendas, descuidei-me com uma outra ameaça, ainda mais letal, mais cínica, mais implacável. Estavam reunidas todas as condições para mais uma fatalidade. Dirigia-me para a faculdade quando “Splash!!!”. Ainda atordoado pelo impacto, consegui identificar o cheiro a vingança… foi quando olhei sobre o meu ombro direito. Como por reflexo olhei para cima, e lá estava ele, imponente no cimo da paragem. Seus olhos brilhavam, como se tivesse cumprido o propósito de uma vida, da de vingar os seus tetra-tetra-avós que eu havia fuzilado anos atrás com uma velha pressão de ar. Em seguida levantou voou como que a festejar o seu triunfo. Mais um tiro, mais uma vitima.

No meio de tanto azar, a sorte de estar de impermeável e munido de uma pequeno lenço de papel, salvaram-me da chacota total.

Passei o resto do dia a suspeitar de tudo, sempre a olhar para trás, a mirar todos os galhos, a inspeccionar todos os algeiros, e varandas, a temer qualquer voo picado na minha direcção, e com tanta prudência, quase, mas mesmo quase, caía em mais uma armadilha canina… acreditem até tive um suor frio.

De facto andar em Lisboa, tem muita ciência, muita capacidade de concentração, para não atingidos por uma bomba bioquímica, ou uma mina odorífera terrestre que faz qualquer perfume Patcholi parecer uma brincadeira de criança…

1 de março de 2007

Aventuras de uma manhã comum.

Acordei há algumas horas atrás, mas ainda estou dormente. Acordei quando o primeiro raio de sol penetrou pela porta da minha varanda. Levantei-me a procura do telemóvel que devia estar algures no chão do meu quarto… A cabeça latejava, como que a dizer que para deitar rápido, porque a cama ainda estava quente. Finalmente pisei qualquer coisa… Rapidamente cheguei a minha primeira brilhante conclusão…(e última até ao momento): O que se encontrava por debaixo do meu pé era um telemóvel.

Mesmo ofuscado pelo brilho do ecrã, consegui discernir o relógio… ainda era cedo… podia dormir mais 40mins. Aproveitei o balanço da cama quente e fechei os olhos.

“Alguém bateu a minha porta” pensei eu… “Estarei a sonhar?”, e foi quando ouvi alguém a reclamar do outro lado… Comecei a desconfiar que não era um sonho. Foquei a minha atenção e por momentos pareceu-me ouvir “Desliga-me essa merda!!!!”. Foi quando um “clique” se deu… o meu despertador já tocava há largos minutos…

Saltei da cama e apressei-me para o banho, mas assim que abri a porta do meu quarto deparei-me com o olhar malévolo que estava expresso na face do meu irmão… Antes que começasse a chover, dei-lhe os bons dias e fintei-o…

Mal tive tempo para apreciar o meu duche (que por sinal é o meu momento predilecto do dia). Foi tão rápido que nem deu para tirar a remela que estava encrostada no canto do olho. No caminho para o meu quarto, passei pela cozinha a velocidade da luz, apenas e só com o objectivo de tirar um iogurte líquido do frigorífico. As escadas interpuseram-se entre mim e o meu quarto, e sem meias medias desatei a subi-las, mais rápido que me era permitido… Resultado: um pequeno desequilibro e um chavascal gerado pela feroz luta, por mim disputada, para evitar que a minha cara ficasse gravada no chão. A minha mãe pronunciou algo em voz alta do género “Destrambelhado, não tens respeito pelas pessoas, deixa dormir quem trabalha…”, mas foi quando senti que algo me fulminou… lá estava ele à porta do seu quarto… e antes que ele sequer pensasse em dizer alguma coisa… sorri-lhe e tornei a dar-lhe os bons dias.

Quando cheguei a segurança do meu quarto acorri ao relógio e vi que tinha 10mins para apanhar o autocarro. Respirei fundo e lembrei-me daquilo que havia aprendido pela minha própria experiência quando era mais criança (sim eu ainda sou uma criança…), um minuto dá tempo para fazer muita coisa. Abri o guarda-roupa e tirei a primeira roupa que me veio a mão. Consegui beber o iogurte, vestir as calças e procurar o meu passe tudo ao mesmo tempo, e 4mins depois estava a sair do meu quarto… Senti-me cansado e percebi que já não tinha idade para estas correrias matinais…

Esbaforido, penteei o meu cabelo (acho que consegui bater todos os meus recordes, não demorei nem 10seg a pentear), e meti a escova de dentes à boca.

Sai da minha casa como um míssil, pois o autocarro estava a chegar a paragem. Foi algo digno de um documentário… Acho que estou a imaginar o título: “A arte de apertar a camisa enquanto se corre que nem um desalmado”… LINDO! Foi poético, só mesmo visto… acho quem se dirigia no autocarro deve ter achado graça… um totó com um casaco ao ombro, uma mochila na boca a correr enquanto apertava a camisa. O curioso, é que as caras deles não estavam muito sorridentes para mim quando tive de fazer o autocarro ficar parado enquanto procurava a senha do passe. Para variar tinha esquecido de colar a vinheta no passe, todos os meses é sempre a mesma ladainha…

Sentei-me no primeiro lugar vago. Sentia-me amassado, como se, em vez de estar vestido, apenas tivesse enrolado num monte de trapos.

A entrada no metro estava sobrelotada, as pessoas atropelavam-se para chegarem as portas de entrada. Consegui-me colocar naquilo que parecia encaixar-se na de definição de fila. Após atumultuados segundos deparei-me com uma senhora de idade a minha frente, que tentava insistentemente abrir a porta sem qualquer resultado. Eu ainda tentava perceber se tinha os botões das calças bem abotoados quando indelicadamente alguém disse a senhora que estava na hora de ir carregar o passe, e foi então que percebi que não era o único a deixar essas coisas para a última hora.

Sem qualquer espanto, o único lugar que consegui no metro foi o de “esmagado contra a porta”.

O alívio chegou quando o metro parou no Saldanha para descarregar um mar de gente, que num ápice encheram a única saída…

Apressadamente dirigi-me para a faculdade…

Entrei no pavilhão olhei para o andar superior e percebi que ninguém estava a porta… parecia que estava atrasado, tinha que interromper a aula… coisa que eu detesto!

Abri a porta e voltei a ter a sensação que alguém me fulminava com os olhos. Deparei-me com o professor a olhar para mim com um ar de espanto e ameaçador, a minha primeira reacção foi de por a mão nos botões das calças, pois pensei que podia ter a loja aberta, mas eis senão quando, o professor disse: “Que é que estás aqui a fazer, isto é que são horas???”. Engoli em seco e pensei para os meus botões, “Fogo não estou assim tão atrasado…”. Sem qualquer movimento brusco tirei o telemóvel do bolso e vi que eram 8h20… Eu não estava atrasado, de facto até estava 10mins adiantado, o problema é que estava na sala errada…

Foi nessa altura que me senti pequeno, pedi desculpa e retirei-me… Para além de desorientado, estava também encabulado…

Sentei-me na sala, o professor estava atrasado, e numa fracção de segundos os meus olhos fecharam-se. Acordei com o professor a entrar na sala… ainda estava a ver tudo desfocado, e já o professor dissertava sobre Organização Empresarial e a Economia Mundial… tive logo um ligeiro presenciamento que as duas horas seguintes iriam ser duras.

A luta foi difícil, mas consegui manter-me acordado, apesar do esforço sobre-humano de tentar ler o quadro e passar para o caderno.

A aula terminou no momento em que estava para entregar as armas e levantar a bandeira branca. Decidi ir lavar a cara na casa de banho, e retirei por fim a remela que estava no canto do olho.

Cheguei ao metro, que nem parece o mesmo quando está vazio, e fechei os olhos… Quando os abri já estava em casa, acho que foi o piloto automático que me trouxe de volta (é uma sorte terem inventado uma coisa destas, o que era de nós sem este instinto primário).

Morto deitei-me sobre a cama… estava fria… tentei lembrar-me da agradável sensação da caminha ainda quente que sentira de manha, mas não adiantou de nada… Não consegui adormecer… o meu dia chegara ao fim… eram 11h30 da manha.

Apesar de tudo, percebi que estava feliz… exausto, mas feliz. Apesar as vergonhas todas, o meu sorriso esteve sempre presente, não se deixando encabular pelas situações erráticas e adversas que foram surgindo… no fundo penso…ainda bem que há dias assim…