21 de agosto de 2007

I Daydream


O sabor amargo do café fez-me lembrar que nem tudo na vida é doce, mantendo-me assim longe de ilusões. A chávena, o cinzeiro e o jornal davam o toque final ao cenário pitoresco de um café conhecido no meio de uma avenida lisboeta bastante movimentada.

Sentado absorvia o tempo folhando o jornal na diagonal enquanto reparava no contraste de uma rapariga vestida de rosa com outras duas totalmente vestidas de preto. A dormência começou a apoderar-se de mim, e assim acabei por tomar a decisão de me movimentar.

As ruas estavam cobertas de turistas, os edifícios mostravam-se atraentes para essas pessoas, mas eu que ali passara tantas vezes, nunca me apercebera de tamanha beleza.

A música acompanhava-me e eu, caminhando de cabeça erguida, ia observando a harmonia da mistura da brisa com o verde das folhagens e o azul celeste do céu, harmonia essa que dava um tom bizarro a tela, quando misturada com a azafama que se encontrava na rua.

Á medida que caminhava foi ficando mais clara a antítese daquele meio. A opulência de certos veículos, o vislumbre das lojas e a ostentação de algumas pessoas fazia sobressair ainda mais a miséria daqueles que nas portas estavam sentados com uma mão esticada.

Senti-me apoquentado e assim que vi aquele senhor de barba grande, com uma idade aparente, certamente muito superior a real, não resisti e abri a minha carteira. O pouco dinheiro que tinha dividi-o em duas partes iguais e deixei uma delas, na mão áspera daquele senhor que gentilmente me desejou sorte.

Mais a frente uma senhora esticava a mão, também. O seu rosto não conseguia disfarçar os muitos Invernos que vira passar. Parei, e desta vez não pensei e a parcela que me sobrara rapidamente não era mais minha.

“Deus o ajude!” disse ela, e eu pensei… talvez ele até exista.

Não tenho a bondade de São Martinho ou a moral de Sto António quando deu o sermão aos peixes, mas senti-me mais leve e muito mais humano. Ficara sem dinheiro, mas o alívio era muito grande, senti-me uma pessoa melhor.

Já sentado no banco do jardim, descansei a cabeça. Os raios de sol penetravam por entre as folhagens aqueciam-me o rosto e o coração. Ali fiquei a fumar a alma e a consumir o meu espírito, ali estava eu a sonhar acordado um sonho onde era difícil de perceber onde terminava o real e começava o surreal, mas naquele banco fiquei a sonhar mais um pouco a espera que o tempo passasse ou que alguém chegasse e me sussurrasse ao ouvido “Já cheguei”.

Assim o tempo passou e eu apenas sonhando...

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