21 de fevereiro de 2007

Déjà vu ou uma solidão que perdura...

Hoje acordei cedo, e como por instinto olhei para o outro lado da cama, depressa percebi que estava só no meu quarto. Quatro paredes brancas recheadas de memórias.

Apressei-me a levantar-me, embrulhei-me no robe e rapidamente sai do meu quarto. Corri as divisões todas da casa em busca de alguém, mas na casa não existia vivalma; e mais só me senti.

Cheguei a casa de banho e mirei-me ao espelho. Um arrepio percorreu o meu corpo nu, quando me deparei com o meu pior inimigo… eu. Sem hesitar precipitei-me sobre o duche. A água morna corria pela minha pele aquecendo o meu corpo, lavando a minha alma. Pareciam lágrima, as gotas que escorriam pelo meu rosto. Estava sozinho naquele local.

Chegado de novo ao meu quarto, nostalgias esbateram-se no meu rosto, o guarda-roupa aberto colocou-me perante a minha primeira decisão. As horas fluíram sem que eu tivesse de pronunciar qualquer palavra, nem mesmo um som… era hora de sair.

Na paragem esperei por uma cara amiga com quem dialogar, mas o autocarro chegou e eu estava, mais uma vez, só. Dentro do autocarro apenas viajavam algumas caras, todas elas gastas pelos muitos Invernos que viram passar, e não havia ninguém com quem eu conversar. Pela janela observei a cidade… parecia quase vazia de algo, quase tão vazia como eu me sentia. No metro a mesma sensação… a única coisa que mudara era a imagem que se fazia ver pelas janelas, imagens de um breu denso que por vezes se alternava com as coloridas luzes de um cais vazio. Eu chegava à aula sem que uma palavra tivesse pronunciado.

A sala estava vazia, vazia de intimidade, vazia de cumplicidade, vazia de sabor. A solidão teimava em não sumir. Comecei a sentir tristeza no peito, e a aula passou sem que eu proclamasse qualquer som.

O metro esperava-me uma vez mais, para mais uma viagem até ao meu destino. Instintivamente procurei um olhar familiar, um rosto conhecido, mas nada achei e apenas me deixei acompanhar pela minha música que me embalou nos meus sonhou.

Já estava sentado quando o cheiro do meu café me puxou para a realidade… já estava frio e o cigarro que havia acendido minutos antes morrera no cinzeiro. Dei por mim sentado numa mesa com mais 5 cadeiras, e todas elas tão cheias, tanto quanto havia sido o meu dia. Parecia que a solidão chegaram para ficar… ali fiquei a ver as horas passar, sem que ninguém amigo aparecesse. Eram horas de me mudar.

Acorri a paragem do autocarro pois havia mais uma viagem a fazer antes de chegar meu destino último deste dia.

A confusão estava instalada na sala de espera, um corrupio intenso de “entra e sai”, eu ali estava num canto, mais uma vez observando as pessoas na sua azáfama. Nem uma palavra havia saído anunciada pelos meus lábios.

O meu tempo havia chegado, e quando entrei na sala fria proferi as minhas primeiras palavras do dia “Boa tarde”, das quais obtive a mesma resposta, friamente, daquele homem que vestia uma bata branca, vazia como tudo o que havia encontrado hoje. O diálogo foi curto e seco, sem que o olhar se cruzasse uma vez só. Para mim havia sido uma mera articulação linguística com aquele homem frio que perante mim se apresentava.

Sem que me apercebesse estava de retorno ao meu lar, sempre com o olhar pregado na janela que reflectia o meu rosto cansado.

Mudo saíra, mudo entrava no meu lar… as portas de minha casa abriram-se para me envolver na solidão que havia deixado horas atrás, a mesma solidão que foi a minha única companhia durante o dia. Senti os músculos da minha face entorpecidos, incapazes de proclamar um sorriso, incapazes de se moverem pela falta de uso.

A noite já vai longa e do meu quarto vejo um reflexo que passou o dia a seguir-me, o meu… e por de trás desse reflexo, revejo uma imagem que se colou no meu olhar…o breu, e o vazio das ruas. Desejo agora que o cansaço chegue para que finalmente, me volte a refugiar na minha cama grande e fria, para voltar a ficar protegido por estas quatro paredes, cheias de recordações, que cercam o meu canto…

Ainda tive tempo para mais um cigarro que fumei na minha companhia e na companhia da brisa que corria na rua, e pela primeira vez hoje senti que não estava sozinho. Olhei para o céu, mesmo com algumas nuvens, consegui deslumbra-la. Com a sua luz me aqueceu o peito… por ela, uma lágrima escorreu pelo rosto, uma lágrima solitária como eu só, com ela desabafei as mágoas de um dia que havia sido igual a tantos outros que já vivi.

Dia triste que acaba, comigo sentado numa cama, escrevendo para quem quiser ler, partilhando o vazio que a solidão implica por si só. Há dias assim que nos fazem ver que não somos ninguém senão comunicarmos, se não manifestarmos as nossas frustrações, desejos e medos. Hoje guardei tudo para mim, e tudo e demasiado para mim.

Sem comentários: