26 de fevereiro de 2007

Um mal menor...

O meu olhar perde-se para lá do que é visível...
Foco-me onde o rio se encontra com o mar, onde o doce se torna salgado. O horizonte nada mais é que uma ténue linha de delimita o azul do mar com o azul celestial do céu. Os rugidos das ondas soltam-se, como se de gritos de revolta se tratassem, pelas margens impedirem a progressão das mesmas.
Quase que sinta a areia húmida tocar na minha pele, como se um esfoliante se tratasse.
Foi quando fui rapidamente transportado de volta para a minha varanda, mesmo a tempo de ver mais uma noite romper no céu, enquanto o sol, fazia a sua cama no horizonte.
A temperatura desce, e como por magia a brisa suspende-se, como se a natureza parasse para apreciar o pôr-do-sol.
A harmonia esbate-se em tons de azul e laranja, e é quando o lounge me sobe a cabeça, o volume aumenta e uma sensação de leveza atinge-me de tal maneira que pareço voar. Sinto-me leve e forte, tal como o Super-Homem… mas eis não quando me deparo estatelado de novo no meu puff. Tinha-me esquecido de largar a kryptonite que trago sempre colada não meu peito…

Um mal menor…

Deparo-me com uma situação delicada, uma situação que me é estranhamente familiar.
Luto por discernir qual a melhor decisão, qual será o mal menor. As minhas dúvidas assombram-me as noites… hoje não dormi, passei o tempo com o olhar colado na janela, mirando o escuro infinito. Questionei o céu e as estrelas sobre qual a melhor atitude, e o dia chegou sem que qualquer resposta me fosse dada.
Padeço de cansaço… sinto que os pensamentos não flúem. Sinto uma morte interior que arrasta, mais uma vez, as minhas dúvidas para a cama. Contudo elas perseguem-me para onde quer que eu vá.
Tento entender o significado desta vida desgarrada que tenho vivido, e tudo aquilo que acho que consigo compreender, cedo se torna em mais dúvidas.
Quando penso que tinha o puzzle estava quase terminado, descobri que a última peça não encaixava, e que a figura não fazia qualquer sentido. Pouco do que eu tenho aprendido ultimamente, tem feito sentido. As desilusões ocorrem a todo momento, e o que era certo antes, não o é agora. A vida tem o dom de misturar os sentimentos de maneira aleatória, criando incertezas em tudo o que desejamos que seja dado como absoluto.
Por vezes somos nós que queremos complicar o que se tornava simples, como que a contrariar o que a vida nos quisera facilitar. É nessas alturas que penso que nasci para viver num ténue sofrimento, que me vai anestesiando o cérebro, de tal maneira que não me é permitido observar correctamente o que me é reservado… mas nem tudo é prejuízo. No meio desta selvajaria é possível retirar algumas conclusões sobre mim. Tenho percebido que por mais complexo que eu seja, são as coisas simples da vida que me fazem feliz. São as pequenas palavras, que quando ditas com consciência e sentimento, me fazem acreditar na felicidade, são as pequenas atitudes, como um sorriso honesto ou um olhar de cumplicidade, que me fazem almejar um novo rumo.
Estou cognescente que ninguém pode ser feliz vivendo na ilusão, e que quanto mais nos iludimos, mais nos desiludimos. Tenho mais dúvidas que certezas, mas é isso que nos faz lutar por um futuro mais certo. De facto a vida é uma antítese, um paradoxo complexo.

Falando em paradoxo… gostava de saber o que realmente queres de mim, gostava de saber porque fazes da indiferença, a tua arma contra mim, porque me massacras com a tua aparência indestrutível, que me reduz a pó e mágoa? Porque insistes em destruir tudo aquilo que eu levei uma vida a construir? Será que te fiz tanto mal assim? Mereço eu este tratamento? Será que foi por te ter realmente amado? Ou será porque tu nunca o fizeste? Será que é saudade o que sentes, ou apenas repúdio? Não vês que já estou no fundo? Não percebes que não posso descer mais? Donde vem essa insaciável vontade de me ver por baixo? Ou será que interpretei tudo errado?
Estou consciente que todas elas são retóricas, e que provavelmente nunca irei alcançar tais respostas…
Ver-te novamente vai ser doloroso, mas se te evitar, não vai evitar que a dor não bata de novo. Gostava que tivesses em consideração tudo o que passamos, tudo o que um dia me disseste, tudo o que um dia sonhamos, tudo o que um dia acreditamos… gostava que tivesses em consideração que ainda te amo.
Gostava que entendesses que, nada existe, tudo é triste desde que te vi partir naquela noite.
Tu foste e és o meu purgatório, mostraste-me o quanto eu fui cruel para os outros, e mostras-te me fazendo-o a mim. Por ti, eu vi o quanto pequei, o quanto monstro eu fui. Ensinaste-me que um predador, depressa se torna numa presa, e por esse, e todos os outros ensinamentos, eu estou te grato… foste simples, brutal, genial e incisiva.
Mesmo assim, continuas a ser o meu Alfa e o meu Ómega, ainda és o meu nascente e poente, a primeira do dia e a última da noite.
Tornaste-me mais calculista, mais frio e imparcial. Tornaste-me mais insensível, mais opaco, mais destrutivo, mas quando o assunto és tu, a armadura cai-me deixando-me desprotegido, frágil… vulnerável aos teus ataques de ausência.
Tinhas razão quando disseste que eu era demasiado emocional. Tu consegues amansar a fera mais indomável.
Agora espero sentado, impávido, pelo dia em que tu me iras confrontar com as tuas palavras, com o teu olhar. Espero rezando que apenas se manifeste o mal menor. Espero tentando me concentrar, para que nem a calma nem o discernimento me abandonem quando me deparar perante a tua postura de super-mulher.

Espero conseguir dominar os meus instintos mais profundos, aqueles que me tornam injusto e cruel…

Estou cansado…

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