Sinto um insípido sabor na boca! Fecho os olhos e observo o teu retrato e é com eles bem fechados que choro lágrimas que caiem sobre uma tela.
Lentamente surge uma figura tons de magenta. Luto contra amargura de um desgosto e dessa luta surgem gotas de suor que pintam de azul profundo, o fundo que antes era verde esperança.
Chove, e a água lava o seco do meu cabelo arrastando com ela a dor do meu pensamento, dando assim um retoque em tons de preto.
Observo o quadro e as minhas lamentações traçam o delineado do teu rosto.
Por entre mais um travo no cigarro, sinto o aperto dos espinhos na minha alma. Anéis de fumo azul cercam o meu ser e o doce de um limão entranha-se no meu corpo. Com o teu retrato queimado nas minhas retinas fecho mais uma vez os olhos, e como se fosse uma caixa tão cheia de nada contemplo o cinzento uivar dos lobos.
Questiono-me sobre as físicas e metafísicas que vão para lá do universo mas tudo aquilo que eu vejo são estrelas cadentes caírem dos teus olhos. Percebo que são matos densos que inspiram o mais leviano dos pecados... tu inspiras a mais perigosa das sedes. Sinto em mim o castigo daqueles que um dia ousaram amar um ser. Oiço portas e janelas a bater, o vento a gritar e uma voz que me diz para parar de chorar.
Sinto, nos ombros, o peso da poeira amarela das estrelas que choram, poeira que me turva a visão e que termina o quadro.
Observo-o mais uma vez, como se o observasse por uma última vez, e reparo que, quem o vê de longe pensa que é amor, mas quem, por sua vez, o vê de perto, percebe que não passam de marcas de guerras e horrores… mas ali estou… eu contemplando a teu retrato violeta a uma meia distancia…
Ali estou eu… degustando-te…
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