22 de maio de 2007

FMM, um grande festival.


Aproximam-se os exames. Os nervos em franja, o nervoso miudinho, os longos dias de estudo, mas o pior de tudo é os 3 grandes concertos que vou ter de perder derivado aos exames. Gotan Project, Nouvelle Vague e Norah Jones… pois é… eu todo, sou lágrimas, mas nem tudo é mau e a esta altura do campeonato tudo se proporciona para mais um grandioso final de Julho.

Sim, mais uma vez, tudo aponta para a repetição da minha presença em mais um FMM (Festival Músicas do Mundo) em Sines.

Com a aproximação de tal data é mais que normal que as memórias do FMM 06 venham ao de cima.

Foram 3 dias de intensa cultura musical de enorme qualidade, 3 dias que, sem sair da mesma vila, corri todo o mundo através da música, musica que veio de todos os continentes…

Foi uma aventura, desde o terminal dos autocarros em Lisboa até a descoberta de novas mentalidades.

Estava já no terminal à espera da minha prima que estava um pouco atrasada, a pesada bagagem estava amontoada num banco, lembro-me que estava impaciente. Sentia algum receio da aventura que se figurava a minha frente, no terminal estava a azáfama natural. Quando me encontrei com a minha prima senti-me mais tranquilo, ela coitada estava mais carregada que eu. Juntos tínhamos uma verdadeira montanha de sacos. A viagem de Lisboa a Sines havia sido rápida, e sem dar-mos por isso estávamos no terminal de chegada, sem saber que rumo tomar. Os dois sozinhos, perdidos no meio de Sines, sem nunca nenhum de nós ter estado lá. Chegamos mesmo a questionarmo-nos mutuamente se estávamos mesmo em Sines. A atitude de chamar um táxi fora a mais acertada.

Dez minutos depois estávamos no parque de campismo. Ao deparar-me com um reduzido número de tendas senti algum receio que o festival fosse coisa para poucas pessoas, mal sabia eu como estava enganado. Não tivemos muito tempo para montar tenda, pois a noite aproximava-se e ainda tínhamos de encontrar um qualquer sítio para reconfortarmos os estômagos.

Quando regressávamos ao parque para nos prepararmos para o festival, deparamo-nos com um mar de gente a porta do parque… afinal o cenário estava-se a compor.

Para entrar no castelo deparamo-nos com uma fila com muitas centenas de metros, de facto tudo aquilo estava a superar as minhas expectativas. A viagem ia começar…

Programação do 1º dia:

Gaiteiros de Lisboa – A irreverência musical distinguia bem maneira de estar deles em palco, sons tradicionais portugueses com uma adaptação fantástica a actualidade. Para mim uma excelente maneira de começar um festival como este.

Trio Rabih Abou-Khalil & Joachim KühnUm trio Libano-Germânico composto por uma bateria, uma viola e um piano de cauda. Três mestres do Jazz Clássico e intemporal que hipnotizaram toda a plateia. Sons de uma qualidade impar.

Toumani Diabaté & Symmetric OrchestraPara rematar o primeiro dia no Castelo nada melhor que os sons quentes de África. Davam-se os primeiros ritmos afro do festival. O concerto mais aguardado da noite chegara. Túnicas laranja, limão, melancia e uma constante tentação para as aves invadiam o palco. Ritmos quentes, alegres, fulgurantes explodiam em palco. Uma festa de cor e som impressionante que contagiava a dança no recinto. Milhares de pessoas a saltar a som desta animada orquestra, enquanto Toumani manobrava a kora como se de um volante se tratasse, abrindo espaço na frente do palco aos solos dos vocalistas. O Nigér estava muito bem representado.

A festa continuava pela noite dentro no palco junto a praia, mas o dia havia sido longo e duro e acabei por ter que ir descansar.

Números do dia 27: cerca de 8000 pessoas a dançar nos palcos de Sines.

No 2º dia o festival para mim começava mais cedo. Estava eu a descansar na praia quando o palco da praia foi aberto para um concerto antes de jantar. Nuru Kane trazia até nós e até ao mar a sua guitarra e o seu blues com claras origens africanas. Suas vestes e suas melodias denunciavam bem as suas origens. Do Dakar ao deserto do Sahara.

Programação do 2º dia:

FaridaQue melhor maneira de começar, uma diva e rainha em palco, um colosso em palco, uma poderosíssima voz que acartava com ela melodias belas, mostrando a todos que o Iraque não é só guerra e violência. Uma demonstração de carisma em palco como poucas vezes eu vi. Excelente!!!!!

The Bad Plus – Destes, eu fiquei grande fã, até já tenho 3 álbuns deles. O mais genial e moderno Jazz que eu conheço. Sem preconceitos, com grande atitude e presença em palco. Três gigantes do Jazz em palco. Um concerto do outro mundo que terminou com um solo do baterista David King que levou a plateia a estratosfera, preparando a plateia para o fantástico espectáculo de percussão que vinha logo a seguir.

Trilok Gurtu – “Senhoras e senhores bem vindos a esta viagem sensorial. Apertem os cintos e segurem-se ao chão que isto vai aquecer”. Esta seria a melhor informação que eles poderiam dar antes do concerto. Gurtu, 6 vezes aclamado o melhor percussionista do mundo não deixou ficar os seus créditos em mãos alheias. Ainda o publico estava a tentar recuperar o folgo do ultimo assalto do David King já Gurtu estava a começar…e uma vez começando a tocar foi brutal… Gurtu fazia-se acompanhar de mais duas vozes indianas que davam ao seu ritmo avassalador um misticismo único. Definitivamente o melhor espectáculo de percussão que eu assisti… sem dúvida, um dos melhores do mundo, eu estava lá! 12000 pessoas estavam em êxtase… Genial.

Na praia uma multidão aguardava o génio Tony Allen. Uma multidão envolvida numa mega afrobeat party, dançando ao longo de toda a praia ou deixando-se banhar pelo funk nigeriano deitadas na areia. As canções diluem-se umas nas outras. O ar é substituído pelo som. Respira-se fundo.

Chegara o último dia. Cada vez havia mais pessoas e o letreiro na porta do parque de campismo dizia: “ Lotação Esgotada”. Na verdade o parque estava no dobro do limite. Todo o cantinho havia uma tenda. O ambiente era fantástico. Muita gente jovem, de muitas nacionalidades, de muitos estilos, todos a conviver sem qualquer preconceito ou discriminação.

Programação do 3º dia:

VärttinäTrês belas e sensuais finlandesas apresentavam-se em palco com um ar angelical. Suas belezas figuravam por todo lado mas era o folk que elas ali traziam que revigorava todos os presentes. Maneira muito agradável de começar o último dia.

Cordel de Fogo Encantado – Quando este grupo entrou em palco, olhei para a minha prima e perguntei-lhe “Quem são estes alucinados? Não me parecem bater bem da cabeça!”. E de facto não batem bem! Brasileiros, vindos do sertão traziam com eles, na bagagem muitos tambores, um triângulo, um violão e imensa insanidade! O facto é que eles cativaram-me de tal maneira que não resisti a arranjar 5 dos álbuns deles, e sinceramente, é difícil de dizer qual o melhor. Colossais, fantásticos, brutais, magníficos, geniais, bestiais etc, etc, etc… Lindo!!! Uma mistura de teatro e música inimaginavel!!! Percussões de rasgar os tímpanos, um violão tão assertivo quanto elas e, sobretudo, a cascata de poesia que caía da boca do vocalista, uma mistura de Cristo, Diabo e Pierrot, fizeram do espectáculo uma tocha inflamada de paixão lírica. Quero vê-los mais vezes em Portugal!

Seun Kuti & Egipt 80Por último um enorme espectáculo musical. Kuti trouxe até nós uma forte sátira aos americanos incrustada nos ritmos africanos. Colocou mais de 20 pessoas em palco a tocar instrumentos diferentes, incluindo Tony Allen. Cor, ritmo, dança, feitiços e rituais, a magia estava no ar! Plateia ao rubro, quase que dava para sentir o sabor da África central invadir-nos a alma! O brilhante final!

Ainda não sei que me espera este ano, e é isso que me entusiasma mais…

Tudo farei para marcar uma presença do FMM 07. Tenho a certeza que vai ser, mais uma vez, inesquecível!

1 comentário:

Sophie disse...

De facto aguçaste a curiosidade...

Se seguir as pegadas do último, não há por onde arrepender... e sempre se vai aumentando cada vez mais o minusculo mundo musical que possuimos...:)

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