5 de maio de 2007

Eu tenho 3 amores, 3 grandes amores!

O sol já ia alto quando os meus olhos se abriram. Senti o corpo mais leve. Parecia que a longa noite de descanso havia resultado. Revitalizado pelo sono prolongado e pelo o banho de água morna, senti que o dia iria ser-me favorável. Apressei-me sobre o guarda-fatos, pois já estava atrasado para almoçar em casa dos meus avós. Com uma leve rapidez, estava fora de casa. Os meus avós moram a apenas algumas ruas abaixo da minha por isso, fui a pé, e durante o caminho vi que o dia estava lindo, de uma beleza tão grande que dei por mim a cantarolar estrada fora!

Já na rua dos meus avós, ouvi algo que me chamou à atenção. Ouvi alguém pronunciar o meu nome! A voz tinha um tom gasto e fraco. Olhei para a casa que estava a minha esquerda, por entre a vedação vi um vulto negro, movendo-se lentamente.

“Só pode ser ela!”- Pensei eu. E foi quando a sua silhueta aparece pelo portão. Com dificuldade ela abre o portão e dirige-se a mim. Como sempre, abraçou-me e repetiu o meu nome quatro a cinco vezes, o abraço era forte, mais forte que eu pensara que ela pudesse ser. Quando se afastou deu-me dois beijos no rosto. Senti sua pele, e vi que estava áspera e carregada de rugas devido aos muitos Invernos rigorosos que vira passar. Foi quando dei conta da lágrima que contornava cuidadosamente cada ruga do seu rosto. Estava claramente comovida. Eu entendia perfeitamente a sua comoção. Ela tinha sido a minha Ama, desde que nascera, até aos meus 10 anos. Sempre a tratei como uma mãe, sempre tive o maior carinho por ela. Apesar de morarmos perto, haviam passado anos desde a ultima vez que eu a vira. Senti um saudosismo muito grande, vindo de dentro e então abracei-a cuidadosamente para não a magoar. Agora era eu que chorava. Afastei-me e olhei-lhe o rosto. Com a sua idade já não dá para disfarçar, já entrou naquela fase em que o tempo não perdoa, e marca cada dia no rosto. Vê-la ali assim, vestida de luto, pela morte de seu marido deixou-me triste. Sentir que o tempo lhe tirou muita coisa, mas não o amor por mim, deixou-me sem ar no peito. De súbdito um flash passou pela minha cabeça e algumas memórias vieram ao de cima. Algumas aventuras e desventuras que vivi enquanto morei naquela rua, enquanto estive ao cuidado de tão nobre senhora. Trocamos breves palavras pois o tempo não era muito e na despedida senti o meu corpo a tremer, a terra voltava a reclamar mais uma lágrima minha.

Eu, céptico de natureza, comecei a desconfiar que por vezes o destino existe e fiquei a pensar no que queria ele me mostrar com estes dois últimos dias. Ele, de maneira subtil havia conseguido juntar, em apenas dois dias as três mulheres mais importantes da minha vida, as três mulheres que mais respeito e amo. As minhas duas avós e a minha ama. Todas ela septuagenárias, todas elas anjos encarnados. Fiquei confuso, mas ao mesmo tempo muito feliz de saber que há quem me ame de uma forma incondicional. Três mulheres sofridas, cansadas pelo tempo.

Foram dois dias muito gratificantes, e só de perceber isso, fico com os olhos carregados de água. Não me interessa de foi destino ou acaso, só sei que foi muito revitalizante todos estes reencontros.

Espero que aconteçam mais vezes…

1 comentário:

Sophie disse...

Amores sinceros. Incondicionais
que o vento não arrasta,
que a chuva não dilui,
que o tempo não desgasta,
que o sol não desbota...

que assim permanece.

Grandes Amores. De ontem. De hoje. De sempre. Fantástico!:-)